domingo, 27 de janeiro de 2013

VERMINOSES : ESTRONGILOIDÍASE


VERMINOSES : ESTRONGILOIDÍASE




ESTRONGILOIDÍASE

AGENTE ETIOLÓGICO

A estrongiloidíase tem como agente etiológico o Strongyloides stercoralis, descoberto por Normand, em 1876, nas fezes de pacientes portadores do quadro diarreico, provenientes da Cochinchina. É parasito do ciclo evolutivo assaz complexo, com dupla modalidade biológica, isto é, uma forma parasitária e outra vida livre. Na sistemática, pertence à superfamília Rhabdiasoidea com um único gênero que interessa à patologia humana, o Strongyloides stercoralis. É parasito habitual do intestino delgado, do duodeno e do jejuno, ocasionalmente da mucosa gástrica e dos segmentos cólicos.

A fêmea mede cerca de 2,5 mm de comprimento, corpo afilado, boca com três lábios e vulva no terço posterior do corpo, são ovíparas e o ovo, quando expulso, contém uma larva que é sempre encontrada nas fezes recentemente eliminadas; formas de vida livre consistindo em larvas rabtidóides, filarióides, fêmeas e machos.

Os machos medem 0,7mm de comprimento, boca, es6ofago e vestíbulo idênticos à fêmea, extremidade posterior delgada e curva ventral.

A fêmea parasita tem como habitat o duodeno e o jejuno, infiltrando-se através da sua mucosa; entretanto, em certas eventualidades pode ser encontrada na mucosa gástrica e cólon.

FORMA DE TRANSMISSÃO

A penetração das larvas infestantes ocorre através da pele ou mucosa, tal como as larvas dos ancilostomídeos. Atinge a corrente sanguínea, o coração direito, e, pelas artérias pulmonares, o pulmão. Neste órgão atravessam a parede dos capilares, atingem os alvéolos, dirigindo-se para os brônquios, em direção à traqueia, faringe e esôfago e, uma vez deglutidos, passam pelo estômago, indo localizar-se no duodeno e na porção alta do jejuno. Após 17 a 25 dias da infestação, os ovos embrionados são eliminados, bem como as larvas rabditóides. Além da infestação pela larva proveniente do meio exterior, pode dar-se a autoinfestação, à semelhança do que é conhecido para outros parasitos. Assim, descrevem-se duas modalidades;

a) A autoexoinfestação, que consiste na infestação da pele da região anal e perianal pela larva filaróide, pouco antes eliminada sob a forma rabditóide e que, pelas condições pouco higiênicas, permaneceram nessas regiões proporcionando tal possibilidade;

b) A auto-endoinfestação, que consiste no encontro de larvas rabditóides na parede intestinal, à semelhança do que acontece nas experimentações em cães.

HOSPEDEIRO

O homem é o mais importante hospedeiro desta helmintíase, mas já encontro o cão infestadas por larvas, morfológicas e fisiologicamente indistinguíveis.

DISSEMINAÇÃO

A maior prevalência de estrongiloidíase tem sido verificada entre os 5 e 20 anos, embora já tenha sido assinalada em crianças com menos de 1 ano de idade e em adultos com mais de 70.

As condições precárias de higiene, tratamento inadequado das fezes, poluição do solo e hábitos pouco recomendáveis favorecem a autoinfestação, conferindo a esta parasitose a possibilidade de se arrastar por longo e indeterminado tempo.

SINTOMATOLOGIA

A sintomatologia dominante refere-se às alterações intestinais, com repercussão para todo o organismo, na dependência também das associações parasitárias, grau de infestação, estado de nutrição e outras causas diversas. É mister lembrar a possibilidade de autoinfestação endo e exógena, que mantém esta parasitose por tempo indeterminado.

De acordo com a patogenia, esquematicamente, podemos considerar os seguintes grupos de sintomas: cutâneos, bronco pulmonares, gastrintestinais e gerais.

Sintomas cutâneos – Relacionam-se à penetração das larvas infectantes através da pele e tegumento, sendo na maioria das vezes discretos e inconstantes. Trata-se das alterações urticariformes, prurido, edema e eritema.

Sintomas broncopulmonares – Os sintomas mais frequentes são a tosse e a expectoração, de pequena intensidade e curta duração. Na eventualidade de uma infestação maciça e de longa duração, com possibilidade de novas progênies, a sintomatologia se agrava, com aparecimento de febre, expectoração hemoptóica e dor torácica, caracterizando um quadro de pneumonia e mesmo broncopneumonia. Outras vezes sobrevêm quadros asmatiformes, em virtude da sensibilização determinada por esse parasito, bem como a verificação de infiltrados pulmonares transitórios.

Sintomas gastrintestinais – São os mais diversos e variados, traduzindo-se por alterações dos vários segmentos afetados, principalmente para o lado do duodeno e jejuno, onde existe peculiar predileção para a localização das fêmeas parasitas, larvas e ovos. A intensidade da sintomatologia é variável de um indivíduo para outro e num mesmo indivíduo, desde um quadro gastrintestinal até um quadro grave, com síndrome enterocólica que leva o paciente à espoliação rápida.

Dos sintomas subjetivos mais frequentes são dignos de registro a dor, o peso epigástrico, o empachamento, a pirose, a sialorréia, o borborigmo, sintomas estes comuns a várias afecções do aparelho digestivo. O quadro clínico doloroso, de intensidade variável, melhorando algumas vezes com a ingestão alimentar, pode conduzir a suspeita diagnóstica de processo ulceroso. Outras vezes a dor é difusa, em cólica, paroxística ou não pela ingestão alimentar.

Os sintomas objetivos comuns referem-se à presença de diarreia, disenteria, náuseas e v6omitos e, mais raramente, obstipação. A diarreia é periódica, de intensidade e duração variáveis, na dependência não só da presença do número de helmintos como também de outras causas, tais como associação parasitária, dispepsias fermentativa e putrefativa, infecção bacteriana.

Em certas ocasiões, nas infestações graves, o quadro é de disenteria, havendo numerosas dejeções com muco, sangue e tenesmo. Não raro, dada à evolução crônica desta moléstia, alternam-se os períodos de diarreia e obstipação por tempo indeterminado. O estado nauseoso e o vômito são mais frequentes na criança do que no adulto.

Sintomas gerais – a febre pode ser verificada por ocasião da invasão pulmonar ou mesmo na fase de localização intestinal e decorre de invasão bacteriana da mucosa.

Perturbações nervosas, inapetência, emagrecimento, desidratação e anemia são outras alterações que ocorrem na vigência da estrongiloidíase, dependendo do seu grau de infestação e condições do hospedeiro.

DIAGNÓSTICO

Clínico – A estrongiloidíase não possui um quadro clínico próprio. Todo o seu cortejo sintomático pode estar presente em várias outras entidades mórbidas. Entretanto, o polimorfismo da sintomatologia gastrintestinal, a evolução crônica, os períodos de ligeira acalmia, devem lembrar a sua possibilidade diagnóstica. As alterações decorrentes da presença das larvas no pulmão nem sempre são intensas de modo a chamar a atenção para a sua etiologia.

Laboratorial – o diagnóstico de certeza é feito pelo encontro, nas fezes, das larvas rabditóides e, excepcionalmente, do ovo.

O exame da bile consiste num meio que oferece alta percentagem de positividade. Entretanto, é menos prático, mais oneroso e não oferece maior índice de positividade que o revelado pelo exame de fezes.

O exame radiológico do duodeno, jejuno e, eventualmente, dos colons, oferecem-nos as alterações morfológicas e funcionais desses segmentos que, se não específicas, lembram a possibilidade da sua etiologia.

Das alterações hematológicas, a mais constante é a eosinofilia; a anemia pode ser encontrada com alguma frequência.

A estrongiloidíase não apresenta quadro clínico próprio. Sua sintomatologia polimorfa pode depender de outras entidades etiológicas. As seguintes afecções gastrenterológicas devem ser lembradas no seu diagnóstico diferencial: úlcera gastroduodenal, duodenite, shigelose, amebíase, colite ulcerativa e, mesmo, um quadro de obstrução intestinal. Os respectivos exames complementares confirmarão a etiologia suspeitada.

TRATAMENTO E TERAPÊUTICA

Específico – o medicamento de eleição para todos os casos é o tiabendazol ou o de segunda escolha, hoje raramente indicado, é o iodeto de ditiazanina.

Tiabendazol – é dotado de incontestável eficácia, mesmo em esquemas de curta duração. Pode-se repetir uma segunda série de tratamento após 1 semana de intervalo. As reações colaterais ocasionadas pelo tiabendazol são muito comuns, pois ocorrem em 43% dos casos.

São representadas por distúrbios digestivos (anorexia, vômitos, eructações, meteorismo, constipação intestinal), sensação de mal-estar geral, cefaleia, tonturas sonolência. Recomenda-se a administração do medicamento nos fins de semana, quando o paciente pode permanecer em casa e acamar-se, se for necessário. Pela sua ação constipante, o tiabendazol pode facilitar a autoinfecção.

Daí recomendar-se o controle cuidadoso da exoneração intestinal na vigência do tratamento, pela administração de laxativos, como o hidróxido de magnésio, por exemplo.

O tiabendazol não tem efeito sobre as formas pré-patentes do parasita.

Assim sendo, a fim de combater as auto-endo e auto-exoinfecções, com ciclos enteropulmonares, e também diminuir, em parte, a frequência e a intensidade dos efeitos secundários, foram recomendados esquemas terapêuticos com doses diárias menores, durante tempo de administração mais prolongado.

Uma dose diária de 500mg durante 25 a 30 dias teria por finalidade erradicar definitivamente o parasitismo. Contudo, a necessidade dessas administrações prolongadas é excepcional, pois na generalidade dos casos obtêm-se elevadas percentagens de curas com os curtos esquemas inicialmente indicados. A administração prolongada do tiabendazol fica reservada para os raros casos de fracassos com os tratamentos iniciais.

Iodeto de ditiazanina – antes do advento do tiabendazol, era o iodeto de ditiazanina a droga mais útil na estrongiloidíase.

FONTE

MINISTÉRIO DA SAÚDE, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica, DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS. GUIA DE BOLSO, 6ª edição revista Série B. Textos Básicos de Saúde, brasília / DF, 2006

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