A FARMÁCIA HOSPITALAR:
UMA VISÃO GERAL E ESTRATÉGICA CAPÍTULO III
PROF. PAULO ROBERTO
COELHO WILKEN
CAPÍTULO III
6.14 - AVALIAÇÕES DO
PROCESSO DE PROGRAMAÇÃO E AQUISIÇÃO
- .Quantidade adquirida /Quantidade
programada ajustada pelo período de desabastecimento.
- .Recurso programado/Recurso
liberado.
- .No de compras de urgência.
- .% do orçamento do hospital
utilizado na aquisição de medicamentos.
- .Gasto “per capta”em medicamentos
- .% produtos com falha de
qualidade sobre total de produtos adquiridos.
7 - ESTABILIDADE DE
MEDICAMENTOS
7-1 - TIPOS DE
ESTABILIDADE
- FÍSICA
As
propriedades físicas originais, incluindo aparência, sabor, uniformidade,
dissolução e sustentabilidade deverão permanecer praticamente inalteradas;
- QUÍMICA
Cada
ingrediente ativo deverá reter sua integridade e sua potência declarada no
rótulo dentro de limites especificados;
- MICROBIOLÓGICA
A
esterilidade ou resistência ao crescimento de micro-organismos deverá
permanecer dentro dos limites estabelecidos. Agentes antimicrobianos presentes
devem manter sua eficácia dentro dos limites especificados;
- TERAPÊUTICA
A
atividade terapêutica deverá permanecer inalterada.
- TOXICOLOGIA
Não
deverá ocorrer aumento significativo de toxicidade.
7.2 - FÁRMACO:
Produto
Químico que irá ter ação sobre um organismo vivo, geralmente doente ou
debilitado.
7.3 - FATORES QUE
MODIFICAM A ESTABILIDADE DOS MEDICAMENTOS
A - FATORES INTRÍSECOS
São
aqueles ligados a tecnologia de fabricação:
v Interação entre fármacos e os
solventes ou adjuvantes,
v pH,
v Tamanho das partículas,
v Qualidade do recipiente,
v Presença de impurezas.
B - FATORES EXTRÍNSECOS
São
os fatores ambientais, ligados às condições de transporte e estocagem:
v Ligados à temperatura,
v Luminosidade,
v Ar (oxigênio, gás carbônico e vapor
d’água) e
v Umidade.
7.4 - ASPECTOS SOBRE A
ESTABIBLIDADE DOS MEDICAMENTOS
A - TEMPERATURA DE
ESTOCAGEM (Farm. Bras.)
v Conservação em congelador: - 20 a 0º
C,
v Conservação em refrigerador: 2 a 8º C,
v Conservação em local fresco: 8 a 15º C
v Conservação em local frio: Temperatura
Não maior que 8º C
v Conservação em temperatura ambiente:
15 a 30º C
v Conservação em local quente: 30 a 40º
C
v Conservação em calor excessivo: maior
que 40º C
B - PRAZO DE VALIDADE -
VIDA ÚTIL DO MEDICAMENTO.
Espaço
de tempo em que o produto conserva suas características (estabilidade) físicas,
químicas, microbiológicas, terapêuticas e toxicológicas, dentro dos limites
estabelecidos por determinadas especificações que garantem a sua qualidade.
8 - ALMOXARIFADO DE
MEDICAMENTOS OU CENTRAL DE ABASTECIMENTO FARMACÊUTICO
A - FUNÇÃO
v Receber materiais
v Guardar
v Localizar
v Assegurar
v Preservar
v Entregar
B - ATIVIDADES:
Para
tal a organização do almoxarifado deve proporcionar:
v .Pronto acesso aos itens.
v .Alto grau de flexibilidade do arranjo
físico.
v .Eficiente organização do espaço.
v .Reduzir a necessidade de
equipamentos.
v .Minimizar as perdas por deterioração.
v .Minimizar as perdas por desvio.
v .Garantir os requisitos de segurança.
C - AMBIENTES
NECESSÁRIOS AO ALMOXARIFADO DE FARMÁCIA
v Recebimento e quarentena
v Área geral de estocagem
v Área para Termolábeis
v Área para Controlados
v Área para Inflamáveis
D - ASPECTOS
CONSTRUTIVOS/ CONSIDERAÇÕES AMBIENTAIS
v .Ajustar-se às necessidades e ocupar
um mínimo de espaço
v .O espaço ocupado deve ter o máximo de
flexibilidade.
v .Paredes - devem ser laváveis.
v .Piso - deve ser lavável e
antiderrapante.
v .Circulação de ar - o ar deve circular
sem anteparos por toda a seção.
v .Luminosidade - deve ser bem
distribuída, de modo que não incida diretamente sobre os produtos armazenados.
v .Temperatura ambiente (entre 15 a 30
C)
v .Proteção contra incêndio.
v .Proteção contra insetos e roedores.
v .Proteção contra roubos e furtos.
E - EQUIPAMENTOS/
MOBILIÁRIOS
v .Estantes
v . Estrados
v . Rede de frio (geladeira doméstica,
freezer, refrigerador, câmara fria)
v .Balança
v .Empilhadeira
v .Escada
F - CUIDADOS GERAIS NA
ESTOCAGEM DE MEDICAMENTOS
v Dispensar o estoque mais antigo
primeiro
v Estoques que vencem primeiro devem
ficar na frente
v A arrumação dos itens deve facilitar
sua localização
v Observar o espaçamento para as paredes
v Os produtos não devem ser colocados
diretamente sobre o piso.
v Observar as condições de estocagem
conforme a monografia de cada produto
v Observar o empilhamento máximo
v Observar sinais de instabilidade
v Observar a rotulagem, principalmente
dos produtos embalados.
v Embalagem: recipiente correto e
fechamento adequado
v Informar ao cliente os cuidados
necessários.
G - CONTROLE DE ESTOQUE
v As farmácias não informatizadas devem
possuir fichário onde serão arquivadas fichas de estoque, uma para cada
medicamento. Estas fichas devem conter: data de entrada do medicamento,
procedência do mesmo, nº do documento de entrada, quantidade, validade, saída e
perdas.
v Ao receber o medicamento, o
funcionário responsável deverá registrar a entrada de todos os produtos
recebidos, só depois é que se procede a estocagem.
v Diariamente deve ser registrada a
saída dos medicamentos.
v Para isso pode-se contar com o auxílio
de um mapa diário de medicamentos onde se registra o quantitativo dispensado de
cada um. Assim atualiza-se o estoque.
v O farmacêutico ficará responsável pelo
controle de movimentação de estoque dos medicamentos controlados, fazendo isso
em livros específicos registrados na Vigilância Sanitária.
v Os demonstrativos de Movimentação de
Medicamento devem conter: nome do Hospital ou unidade de saúde, do responsável
pela farmácia, nome do medicamento, saldo anterior, entrada, saída, perda,
saldo final, e demanda reprimida.
v O responsável pelo controle de estoque
deve ficar sempre atento aos prazos de validade, devolvendo à chefia aqueles
medicamentos que não serão totalmente consumidos.
v Esta devolução só será efetivada com a
apresentação da ata de devolução devidamente preenchida em, no mínimo, três
(meses) antes do vencimento.
v Produtos vencidos ou com embalagens e
ou conteúdos deteriorados devem ser retirados das prateleiras e descartados de
acordo com a legislação vigente para sua inutilização ou para dar o
encaminhamento que se fizer necessário.
v As requisições devem ser feitas com
critério, levando-se em conta o perfil da unidade e o consumo médio mensal
deixando sempre uma margem de segurança (de cerca de 10%), para as possíveis
oscilações de consumo.
v Nas unidades onde o controle de estoque
já está informatizado, o programa deve registra todos os dados referentes às
especificações do medicamento, já citados anteriormente na ficha de controle.
Os estoques devem ser inventariados periodicamente e qualquer irregularidade
deve ser minuciosamente apurada.
v Cada unidade definirá a frequência dos
balanços (mensal, trimestral, semestral etc).
v O responsável pela previsão de consumo
deve trabalhar em conjunto com o restante da unidade e estar atento à
introdução de novos procedimentos, criação de novos programas de saúde, aumento
de consultas, chegada de novos especialistas e aumento ou diminuição de demanda
no hospital ou unidade de saúde.
v É responsabilidade dos almoxarifados
de medicamentos, modernamente chamados de Centrais de Abastecimento Farmacêutico
(CAF) o planejamento, a direção e o controle do processo de recepção,
armazenamento e distribuição dos produtos estocados.
v Deve ainda coordenar, supervisionar e
avaliar as funções que são desenvolvidas nos diferentes setores que formam o
armazém. Cabe ainda a esta atividade a revisão de toda a documentação referente
ao ingresso de medicamentos, como também a sua posterior saída.
v Medicamentos, germicidas e correlatos
não são materiais comuns exigindo uma série de condições ideais para manterem
inalteráveis suas propriedades físico-químicas.
v Os próprios serviços de farmácia, até
pouco tempo atrás, eram vistos como depósitos de medicamentos sem, entretanto,
que fossem exigidos requisitos mínimos de armazenagem e conservação. Com o
crescimento e consequente conhecimento sobre Farmácia Hospitalar a situação se
modificou. Qualquer almoxarifado precisa contemplar vários itens para poder
abrigar esses produtos:
v No armazenamento de medicamentos estão
compreendidas as atividades de recepção, classificação, guarda, eventual
manipulação e controle dos produtos devendo assegurar uma rápida localização,
segura identificação e o máximo aproveitamento do espaço.
H - AVALIAÇÃO DA
ARMAZENAGEM DE MEDICAMENTOS
v .Grau de adequação às boas práticas de
estocagem (extintor de incêndio, termômetro p/ temp. ambiente, suprimento
alternativo de energia para geladeira);
v .Grau de concordância entre a contagem
física e o registro de inventário;
v .% medicamento c/ prazo de validade
vencido.
9 - ESTUDOS DE
UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS (EUM)
Segundo
a Organização Mundial de Saúde (OMS), os estudos de utilização de medicamentos
(EUM) seriam aqueles relacionados com a comercialização, distribuição,
prescrição e uso de medicamentos em uma sociedade, com ênfase sobre as
consequências médicas, sociais e econômicas resultantes (WHO, 1977)
v Estudos de Utilização de Medicamentos
- EUM
v Estudos de consumo
v Estudos de prescrição – indicação
v Estudos de indicação – prescrição
v Estudos sobre o esquema terapêutico
v Estudos dos fatores que condicionam os
hábitos de prescrição e dispensação.
v Estudos das consequências práticas da
utilização dos medicamentos
v Estudos de intervenção
10 – PROGRAMAÇÃO DE
MEDICAMENTOS
10-1 - CONCEITUAÇÃO:
Tem
como função quantificar as necessidade de medicamentos para um período
determinado com o objetivo de planejar e programar a compra, que dizer,
estabelecer as quantidades que serão compradas de cada medicamento e o momento
em que se deve fazer a compra, compatibilizando o processo com os recursos
disponíveis.
10.2 - ASPECTOS
IMPORTANTES NA PROGRAMAÇÃO DE MEDICAMENTOS
DIFERENÇA
ENTRE CONSUMO E NECESSIDADE
CONSUMO
Consumo
é a quantidade de medicamentos efetivamente utilizados em um intervalo de tempo
(dias, semanas, meses, ano). Pode ocorrer em função da necessidade real ou pode
se originar de condutas irracionais de prescrição, dispensação e/ou
automedicação, valores éticos, culturais e influências de origem outra, como
mercado e propaganda.
NECESSIDADE
A
necessidade de medicamentos está diretamente relacionada à prevenção, ao
controle ou à cura de agravos à saúde dos usuários dos serviços de saúde.
Normalmente, é definida por um terceiro, o prescritor, com base nos seus
conhecimentos técnicos, que se espera estarem substanciados na melhor evidência
disponível no momento (Osorio-de-Castro et al., 2000), na adesão a protocolos
terapêuticos, na disponibilidade de medicamentos considerados essenciais e no
uso racional de medicamentos. É importante salientar que a programação com base
exclusivamente em consumo pode reproduzir equívocos e distorções decorrentes de
condutas irracionais quanto à utilização de medicamentos
10.3 - MÉTODOS DE
QUANTIFICAÇÃO PARA A PROGRAMAÇÃO DE MEDICAMENTOS
Existem
vários métodos para programar medicamentos. Eles devem ser escolhidos
tendo
em vista os recursos e informações disponíveis (MSH, 1997). São eles:
I.
Perfil epidemiológico;
II.
Oferta de serviços;
III.
Consumo histórico;
IV.
Consumo ajustado.
I - PERFIL
EPIDEMIOLÓGICO
Esse
método baseia-se, fundamentalmente, nos dados de incidência e prevalência dos
principais problemas de saúde que acometem uma determinada população,
considerando-se o perfil demográfico, os esquemas terapêuticos preconizados, a
capacidade instalada (oferta de serviços e estrutura oferecida à população) e a
possível ocorrência de fenômeno de sazonalidade.
O
método inicia-se com o diagnóstico situacional de saúde da população, no qual
são analisadas as enfermidades prevalentes e incidentes sobre as quais devem
incorrer as ações de intervenção sanitária que possam gerar impacto positivo no
quadro de morbi-mortalidade.
Pode-se,
ainda, aliar o aporte da farmacoepidemiologia para avaliar o padrão de
utilização de medicamentos de modo a aumentar a acurácia do método.
O
uso crítico dos dados epidemiológicos é o primeiro caminho para que se possa
melhorar a qualidade do serviço de saúde. A falta de notificação de certas
doenças, o mau preenchimento de atestados de óbitos, erros de diagnósticos,
insuficiência de recursos tecnológicos para informatização plena das redes e
deficiência de pessoal são fatores que comprometem a qualidade dos registros.
A
programação por perfil epidemiológico não requer, obrigatoriamente, dados de
consumo, e é aplicável quando não se dispõe de informações acerca da utilização
de medicamentos; é também aplicável quando se planeja a instalação de novos
serviços na rede de saúde. A efetividade do método, no entanto, depende da
adesão dos prescritores aos protocolos terapêuticos consensuados.
Pode
haver risco de sub ou superestimativas se houver falta de acurácia dos dados
coletados, confiabilidade duvidosa dos registros epidemiológicos ou
desconsideração quanto à cobertura dos serviços. Se a oferta de serviços for
insuficiente, será muito difícil estimar demanda real.
PROCEDIMENTOS
OPERACIONAIS
1.
Relacionar os principais problemas de saúde por grupo de pacientes e faixa
etária.
2.
Determinar taxa de morbidade e mortalidade para grupos específicos por idade e
sexo.
3.
Analisar a ocorrência das enfermidades em função do período de tempo, incluindo
a sazonalidade. Ex.: A maior incidência de infecções respiratórias no inverno.
4.
Relacionar os medicamentos segundo a abordagem prevista no protocolo
previamente definido, tendo em conta as primeira e segunda escolhas e os
esquemas de tratamento.
5.
Estimar a quantidade de medicamentos necessária para tratar a população-alvo
prevista para adoecer por patologia: dose/dia X duração de tratamento X
população alvo a ser atendida.
II - OFERTA DE SERVIÇOS
É
um caso particular de programação, em que se emprega o mesmo tipo de lógica
presente no método do perfil epidemiológico: aqui se examina basicamente a rede
instalada para tratamento de uma ou outra enfermidade e estimam-se as
necessidades da população atendida perante ela. A oferta de serviços depende da
relação existente entre os problemas de saúde e a disponibilidade de ofertar os
serviços ou cuidados de saúde necessários (capacidade instalada).
Portanto,
é preciso conhecer tais necessidades e serviços de saúde que são ofertados à
população, por nível de complexidade, para se programar adequadamente. Esse
método reflete somente o que foi ofertado e demandado por aquela parcela da
população que teve acesso aos serviços de saúde, não considerando possíveis
ineficiências na oferta e prestação dos serviços.
PROCEDIMENTOS
OPERACIONAIS
1.
Levantar informações sobre os registros dos atendimentos realizados nas várias
unidades da rede de saúde (centros e postos de saúde, ambulatórios, hospitais
etc.).
2.
Sistematizar as informações, relacionando os diagnósticos mais comuns e a
freqüência de ocorrência de doenças por determinado período de tempo.
3.
Verificar esquemas terapêuticos.
4.
Estimar necessidades para cada caso.
5.
Estimar as necessidades totais por meio do produto do número de casos de enfermidades
atendidos por ano pelas quantidades estimadas para cada tratamento, de acordo
com os esquemas terapêuticos preconizados.
6.
Estimar as quantidades a adquirir.
7.
Calcular o custo estimado.
PROGRAMAÇÃO DE
MEDICAMENTOS PARA DIABÉTICOS EM ATENDIMENTO EM UNIDADE
DE SAÚDE ESPECÍFICA
1)
levantamento das fichas cadastrais dos pacientes hoje em tratamento (n=34);
2)
classificação dos mesmos por regime terapêutico seguido pelo prescritor;
3)
cálculos de demanda por tratamentos unitários/mês;
Classificação
A: hipoglicemiante oral Z (2 comp/dia)
Classificação
B: hipoglicemiante oral Z (2 comp/dia)+ hipoglicemiante oral W
(3
comp/dia)
Classificação
C: insulina Y (3 frascos mês)
4)
multiplicação pelo número estimado de tratamentos em cada classe para o período
24
pacientes em A 2 x 24 = 48/mês de Z
4
em B - 4 x 2 = 8/mês
de Z
4 x 3 =
12/mês de W
6
pacientes em C - 6 x 3 = 18
frascos/mês de insulina Y
DEMANDA
ESTIMADA
total
de Z - 48 + 8 = 56/mês
ou 672/ano
total
de W 12/mês ou 144/ano
total
de insulina Y 18 frascos/mês ou
216/ano
Como
no caso anterior, os estoques existentes devem ser considerados.
III -- O CONSUMO
HISTÓRICO
O
método consiste na análise do comportamento do consumo dos medicamentos com
base em uma série histórica, possibilitando estimar necessidades fundamentadas
na frequência e intensidade de utilização dos mesmos ao longo do tempo. Para a
aplicação do método, são necessários a existência de registros de movimentação
de estoques, de dados de demanda real (atendida e não atendida), de inventários
com dados históricos de pelo menos 12 meses, incluídas as variações sazonais.
Com
esses dados, consolida-se a demanda real, desde que não ocorram faltas
prolongadas de medicamentos e que as informações fornecidas sejam confiáveis.
De resto, estima-se a necessidade sempre tendo em vista a posição dos estoques,
como em qualquer método.
Se
ocorrer falta de medicamentos por um período de tempo, deve-se fazer o ajuste
do consumo. Para se obter uma efetiva programação por consumo histórico, faz-se
necessário que as informações de consumo sejam consistentes e confiáveis.
O
método de consumo histórico é o mais empregado. Não requer dados de
morbimortalidade ou de esquemas terapêuticos. Seus cálculos são bem simples e
ele é geralmente bastante seguro na estimativa de quantidades, desde que os
registros sejam confiáveis e suficientemente detalhados.
Em
contrapartida, o método tende a falhar em casos de falta de dados fidedignos e
nos casos de longos períodos em desabastecimento, quando se torna impossível
estimar os parâmetros de cálculo, em especial o consumo médio mensal (CMM).
Como
os dados de consumo são geralmente estimados por aproximações dos dados de
fornecimento (Opas, 1990), haverá casos de superestimativa de consumo quando
ocorrerem desvios, má utilização ou falta de adesão ao tratamento, e
subestimativas quando o acesso estiver prejudicado, seja por falha na cobertura
proposta ou por oferta deficiente.
Essas
discrepâncias, para serem diagnosticadas, requerem auxílio de outros métodos de
programação (como o estabelecimento de perfil epidemiológico) ou de avaliação.
Erros desse quilate podem também promover a irracionalidade do consumo, por
irracionalidade de oferta.
PROCEDIMENTOS
OPERACIONAIS
1.
Levantar uma série histórica de consumo de medicamentos representativa no
tempo. Quanto maior for esse tempo, maior será a precisão e segurança dos dados
utilizados na determinação das quantidades necessárias.
2.
Calcular o consumo médio mensal (CMM), com base na operação anterior, ajustado
pela demanda não atendida e pelo comportamento dos valores relativos ao consumo
de cada item – a magnitude da variação de um mês para o outro, se há tendência
de queda ou elevação de consumo, se o perfil reflete padrão (sazonal ou não) ou
se é errático.
3.
Calcular a necessidade para o período da programação.
4.
Estimar as quantidades a adquirir.
5.
Calcular o custo estimado.
CONSUMO MÉDIO MENSAL
(CMM)
O
Consumo médio mensal (CMM) para cada medicamento corresponde à soma do total
consumido em determinado período de tempo dividido pelo número de meses em que
cada produto efetivamente esteve disponível e foi utilizado. Quanto mais
regular é a disponibilidade do estoque ou o fornecimento, mais sensível será o
resultado obtido.
Se
2.000 unidades do medicamento X foram consumidas em quatro meses, estando o
mesmo disponível em todo o período, o CMM do medicamento X foi de 500
unidades/mês.
Em
contrapartida, se as mesmas 2.000 unidades foram consumidas durante o mesmo
período, mas por razão de desabastecimento esse medicamento esteve em falta por
três meses, então o CMM pode ser estimado em 500 unidades/mês, mas o resultado
é pouco preciso. Na verdade, as 2.000 unidades foram consumidas em um único
mês.
É
difícil prever se o mesmo padrão se manteria caso o medicamento estivesse
disponível por todo o período. No caso desse exemplo, pode estar ocorrendo um
viés no CMM pela magnitude da demanda não atendida.
O
erro aqui seria de: 2.000 unidades/mês x 3 meses = 6.000 unidades
O
CMM de 500 unidades/mês corresponde a 25% do CMM real.
Este
foi um exemplo no qual a estimativa pelo consumo histórico não deveria ser
usada sem uma análise mais detalhada.
Quando
os dados estão distribuídos em período mais longo de tempo, falhas como a
relatada acima se diluem na programação, possibilitando erro menor.
IV - CONSUMO AJUSTADO
Há
situações em que não se tem disponibilidade alguma de dados, seja de consumo,
seja demográficos ou epidemiológicos. Nesses casos, pode-se empregar o método
de extrapolação de dados de consumo de outras regiões ou sistemas (MSH, 1997).
A
programação por consumo ajustado ‘importa’ a programação efetuada para outras
áreas. Geralmente, tal programação emprega uma área considerada padrão e
extrapola as taxas de consumo e utilização para o serviço chamado alvo. Ela dá
uma estimativa grosseira da demanda, não levando em consideração quaisquer
parâmetros locais, utilizando, contudo, dados de cobertura de serviços e da complexidade
dos mesmos.
PROCEDIMENTOS
OPERACIONAIS (MSH, 1997)
1)
selecionar o serviço ou área considerada padrão (A). Esta deve estar inserida
em local e condições o mais semelhantes possível aos da área ou serviço (B)
para o qual desejamos extrapolar os dados. Quanto melhor for a qualidade do
padrão escolhido, mais fidedigna será a extrapolação;
2)
determinar o número de meses em que se fará a revisão de dados (período);
3)
revisar os atendimentos que se processaram durante o período no serviço padrão
(A);
4)
determinar o denominador a utilizar (habitantes na região, total de
atendimentos etc.) para o serviço padrão (A);
5)
determinar a taxa de consumo para cada medicamento no serviço padrão (A),
utilizando a equação abaixo a partir do cálculo da demanda real (Equação 2):
Equação 5
Taxa de consumo A = Demanda real
A/denominador escolhido (no item 4)
6)
extrapolar a taxa de consumo A para o sistema ou unidade-alvo (B),
multiplicando essa taxa pelo no de atendimentos da unidade/sistema B, ou pelo
no de habitantes da região B (a mesma unidade usada para o denominador da taxa
de consumo, só que aplicado ao sistema/unidade-alvo).
7)
adicionar percentuais para cobrir eventuais perdas, já que a estimativa é
bastante grosseira;
8)
estimar custos unitários e totais.
PROGRAMAÇÃO POR CONSUMO
AJUSTADO
Tomemos
aqui como exemplo sulfato ferroso oral:
Sistema
padrão A
100.000
habitantes;
35.000
atendimentos
Consumo
total no período: 35.750 unidades
Dias
em desabastecimento: 60
Período
a examinar: 15 meses
Sistema-alvo
B
90.000
habitantes;
No
desconhecido de atendimentos
Período
a programar: 12 meses
Preço
unitário: R$ 0,02
D
real = 35.750/13 = 2.750
Taxa
de consumo = 2.750/100.000 = 0,0275
Q
estimada no sistema-alvo = 0,0275 x 90.000 habitantes (alvo) ≅2.475
2.475
+ 15% = 2.846 unidades.
10.4 - ASPECTOS TÉCNICOS
DA PROGRAMAÇÃO DE MEDICAMENTOS
INFORMAÇÕES MÍNIMAS
NECESSÁRIAS
v .Consumo histórico de cada
medicamento;
v .Períodos de desabastecimento;
v .Consumo estimado para cada
medicamento;
v .Saldo de cada medicamento ao fim do
período;
ESTIMATIVA PARA O NOVO
PERÍODO DEVE CONSIDERAR:
v .Metas de produção do hospital;
v .Possíveis modificações na demanda da
atenção;
v .Perfil epidemiológico e
missão/objetivos/metas da instituição;
v .Esquemas de tratamento utilizados;
v .Curva ABC e curva VEM.
LISTA DA LEGISLAÇÃO APLICÁVEL
1 - Aprova
o Plano da Farmácia Hospitalar, procedendo à revisão do Plano aprovado
pela
Resolução de Conselho de Ministros n.º 105/2000, de 11 de Agosto.
Resolução
de Conselho de Ministros n.º 128/2002, de 25 de Setembro
2 -
Transpõe para a ordem jurídica nacional a Directiva Europeia sobre Ensaios
Clínicos,Directiva n.º 2001/20/CE.
Lei n.º
46/2004, de 19 de Agosto
2 -
Regulamento geral da Farmácia Hospitalar.
Decreto-Lei
n.º 44 204, de 2 de Fevereiro de 1962
4 -
Dispensa de medicamentos pela farmácia hospitalar por razões objectivas.
Decreto-Lei
n.º 206/2000, de 1 de Setembro
5- Regime
jurídico do tráfico e consumo de estupefacientes.
Decreto-Lei
n.º 15/93, de 22 de Janeiro e sua alteração pela Lei n.º 45/96, de
3
Setembro
6 -
Regulamenta o Decreto-lei n.º 15/93.
Decreto
– Regulamentar n.º 61/94, de 12 de Outubro
7 -
Regulamento do Sistema Nacional de Farmacovigilância.
Decreto-Lei
n.º 242/2002, de 5 de Novembro
8 - Regime
jurídico a que devem obedecer a preparação e a dispensa de medicamentos
manipulados.
Decreto-Lei
n.º 95/2004 de 22 de Abril
9 -
Distribuição de Medicamentos Hospitalares.
Portarias
e Despachos de “Acesso aos medicamentos unicamente de distribuição hospitalar
ou com participação a 100 % no hospital”.
10 -
Armazenamento de Produtos Inflamáveis.
Portaria
n.º 53/71 de 3 de Fevereiro
11- Guia
para o bom fabrico de medicamentos.
Portaria
n.º 42/92, de 23 de Janeiro
12 - Aprova
as boas práticas a observar na preparação de medicamentos manipuladosem
farmácia de oficina e hospitalar.
Portaria
n.º 594/2004 de 2 de Junho
13 -
Distribuição de medicamentos hospitalares em sistema unidose.
Despacho
Conjunto dos Gabinetes dos Secretários de Estado, Adjunto do
Ministro
da Saúde e da Saúde, de 30 de Dezembro de 1991
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- Bases Para El Dessarrolo y
Aprovechamento Sanitario De La Farmacia Hospitalaria. Bogota, Colombia:
Trazo Ltda. Editorial.
- Bermudez, J. A. Z, 1992.
Remédios: Saúde e Indústria?. A Produção de Medicamentos no Brasil. Rio de
Janeiro: Relume Dumará Distribuidora de Publicações Ltda. (Col. Abrasco).
- Bermudez, J. A. Z.,1995. Indústria Farmacêutica, Estado e
Sociedade. Críticas da Política de Medicamentos no Brasil. São Paulo:
Editora Hucitec Ltda. (Co - Edição com a Sociedade Brasileira de
Vigilância de Medicamentos - SOBRAVIME).
- Conselho Federal de Farmácia
(Apoio: MS/CEME/SAS/OFIL/SBRAFH/EMBRATEL), 1997. Manual Básico de Farmácia Hospitalar. Brasília: K & K
Artes Gráficas e Editora Ltda.
5. Gerez, J. C, 1993. “Indústria
Farmacêutica: Histórico, Mercado e Competição”. Rio de Janeiro: Artigo
Publicado na Revista Ciência Hoje, Volume 15, número 89 da Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência, 21 - 30.
- Liaroupolos,
L. L., 1993. Cost savings through technological change in the
administration of antibiotics. Intl of j. of technology assessment in
health care 9 (4): 580 - 587.
- Maia Neto, J. F., 1990. Farmácia
Hospitalar. Um enfoque Sistêmico. Brasília: Thesaurus Editora.
- Matus C., 1993. Política Planejamento & Governo,
Tomo I. Brasília: Serviço Editorial IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada).
- Ministério da Saúde. Coordenação
de Controle de Infecção Hospitalar, 1994. Guia Básico para Farmácia Hospitalar. Brasília: Edição pela
Divisão de Editoração Técnico - Científica / Coordenação de Documentação e
Informação/Secretaria de Administração Geral/ CDI/SAG/MS.
- OPAS/OMS, 1987 (Programa Regional
de Medicamentos Esenciales), PNSP 87/35,
Bases Para El Dessarrolo y
Aprovechamento Sanitario De La Farmacia Hospitalaria. Bogota,
Colombia: Trazo Ltda. Editorial.
- OPAS/OMS, 1992 (Programa Regional
de Medicamentos Esenciales), PNSP/92-10,
Guia Para El Diagnostico de
Farmacias y Servicios Farmacéuticos en las Unidades de Salud.
12. OPAS/OMS, 1994. Qualidade Total e a
Qualidade de Medicamentos Essenciais. Curso de Administração de Sistemas de
Abastecimento de Medicamentos essenciais. Colombia : Medellín
- OPAS/OMS, 1987. Programa de
Medicamentos Esenciales y Tecnologia (HSE), Division de Desarrollo de Sistemas
y Servicios de Salud, Serie (HSP), 1997. Guía para el Desarrollo de Servicios Farmacéuticos Hospitalarios.
(Serie 5 -”5.1 a 5.15). Washington, EUA.
- OPAS/OMS,1997. Programa de
Medicamentos Esenciales y Tecnologia (HSE), Division de Desarrollo de Sistemas
y Servicios de Salud, Serie (HSP), 1997. Guía para el Desarrollo de
Servicios Farmacéuticos Hospitalarios. (Serie 5 - “5.1 a 5.15).
Washington, EUA.
- Pinheiro, E. & Bermudez, J,
1998. Medicamentos: desenvolvimento
tecnológico, produção e consumo - situação, desafios e oportunidades para
Fiocruz. Rio de Janeiro
- Roark,
M., 1993. Slowing rate of cost increase in the Pharmacy, Hospitals 67(2):
56.
- Ryan,
B. A, 1993. The rising cost of Fharmaceuticals: An Industry observer’s
perspective. Am. J. Hosp. Farm. 50, suppl 4: 53 - 54.
- Santich I.R. & Pedrasa, A,
1985. Enfoque Integral del Proceso de Suministro de Medicamentos
Esenciales y otros Insumos Criticos para el Sector Salud. Documento
PNSP/85 - 37. Organización Panamericana de Salud.
- Santich,
I. R.& Galli, A, 1995. La
Asistencia Farmacéutica En El Sistema Único de Salud de Ceará: Elementos
para su Transfomación, Fortaleza, Ceará, CE: Edição Escola de Saúde
Pública e Departamento de Assistência Farmacêutica, SESA, Ceará.
- Scrip
Magazine, January 1994. Lead Companies in 1992/1993. Richmond, EUA:
Published by PJB Publications.
- Serviços de Farmácia Hospitalar
no Brasil. Salvador: doc. Mimeo.
- Sociedad Española de Farmacia
Hospitalaria, 1990. Criterios y Estandares de Practica para Servicios de
Farmacia Hospitalaria. Madrid, España: Edita y Distribuye: Consejo General
de Colegios Oficiales de Farmaceuticos.
- SBRAFH, 1996/1997. Sociedade
Brasileira de Farmácia Hospitalar, 1996/1997. Padrões Mínimos para funcionamento.
- Valery, P. P. T., 1989. Boas
Práticas para Estocagem de Medicamentos. Brasília, DF: Ministério da
Saúde, Central de Medicamentos, Diretoria de Controle de Qualidade.
- Wilken,
P.R.C.& Bermudez J.A.Z, 1999. A
Farmácia no Hospital. Como Avaliar? Editora Agora Da Ilha, Rio de Janeiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário