sexta-feira, 19 de junho de 2015

A FARMÁCIA HOSPITALAR: UMA VISÃO GERAL E ESTRATÉGICA CAPÍTULO III

A FARMÁCIA HOSPITALAR: UMA VISÃO GERAL E ESTRATÉGICA CAPÍTULO III


PROF. PAULO ROBERTO COELHO WILKEN


CAPÍTULO III

6.14 - AVALIAÇÕES DO PROCESSO DE PROGRAMAÇÃO E AQUISIÇÃO

  1. .Quantidade adquirida /Quantidade programada ajustada pelo período de desabastecimento.
  2. .Recurso programado/Recurso liberado.
  3. .No de compras de urgência.
  4. .% do orçamento do hospital utilizado na aquisição de medicamentos.
  5. .Gasto “per capta”em medicamentos
  6. .% produtos com falha de qualidade sobre total de produtos adquiridos.

7 - ESTABILIDADE DE MEDICAMENTOS

7-1 - TIPOS DE ESTABILIDADE

  1. FÍSICA

As propriedades físicas originais, incluindo aparência, sabor, uniformidade, dissolução e sustentabilidade deverão permanecer praticamente inalteradas;

  1. QUÍMICA

Cada ingrediente ativo deverá reter sua integridade e sua potência declarada no rótulo dentro de limites especificados;

  1. MICROBIOLÓGICA

A esterilidade ou resistência ao crescimento de micro-organismos deverá permanecer dentro dos limites estabelecidos. Agentes antimicrobianos presentes devem manter sua eficácia dentro dos limites especificados;

  1. TERAPÊUTICA

A atividade terapêutica deverá permanecer inalterada.

  1. TOXICOLOGIA

Não deverá ocorrer aumento significativo de toxicidade.

7.2 - FÁRMACO:

Produto Químico que irá ter ação sobre um organismo vivo, geralmente doente ou debilitado.

7.3 - FATORES QUE MODIFICAM A ESTABILIDADE DOS MEDICAMENTOS

A - FATORES INTRÍSECOS

São aqueles ligados a tecnologia de fabricação:

v  Interação entre fármacos e os solventes ou adjuvantes,
v  pH,
v  Tamanho das partículas,
v  Qualidade do recipiente,
v  Presença de impurezas.

B - FATORES EXTRÍNSECOS

São os fatores ambientais, ligados às condições de transporte e estocagem:

v  Ligados à temperatura,
v  Luminosidade,
v  Ar (oxigênio, gás carbônico e vapor d’água) e
v  Umidade.

7.4 - ASPECTOS SOBRE A ESTABIBLIDADE DOS MEDICAMENTOS

A - TEMPERATURA DE ESTOCAGEM (Farm. Bras.)

v  Conservação em congelador: - 20 a 0º C,
v  Conservação em refrigerador: 2 a 8º C,
v  Conservação em local fresco: 8 a 15º C
v  Conservação em local frio: Temperatura Não maior que 8º C
v  Conservação em temperatura ambiente: 15 a 30º C
v  Conservação em local quente: 30 a 40º C
v  Conservação em calor excessivo: maior que 40º C

B - PRAZO DE VALIDADE - VIDA ÚTIL DO MEDICAMENTO.

Espaço de tempo em que o produto conserva suas características (estabilidade) físicas, químicas, microbiológicas, terapêuticas e toxicológicas, dentro dos limites estabelecidos por determinadas especificações que garantem a sua qualidade.

8 - ALMOXARIFADO DE MEDICAMENTOS OU CENTRAL DE ABASTECIMENTO FARMACÊUTICO

A - FUNÇÃO

v  Receber materiais
v  Guardar
v  Localizar
v  Assegurar
v  Preservar
v  Entregar

B - ATIVIDADES:

Para tal a organização do almoxarifado deve proporcionar:

v  .Pronto acesso aos itens.
v  .Alto grau de flexibilidade do arranjo físico.
v  .Eficiente organização do espaço.
v  .Reduzir a necessidade de equipamentos.
v  .Minimizar as perdas por deterioração.
v  .Minimizar as perdas por desvio.
v  .Garantir os requisitos de segurança.

C - AMBIENTES NECESSÁRIOS AO ALMOXARIFADO DE FARMÁCIA

v  Recebimento e quarentena
v  Área geral de estocagem
v  Área para Termolábeis
v  Área para Controlados
v  Área para Inflamáveis

D - ASPECTOS CONSTRUTIVOS/ CONSIDERAÇÕES AMBIENTAIS

v  .Ajustar-se às necessidades e ocupar um mínimo de espaço
v  .O espaço ocupado deve ter o máximo de flexibilidade.
v  .Paredes - devem ser laváveis.
v  .Piso - deve ser lavável e antiderrapante.
v  .Circulação de ar - o ar deve circular sem anteparos por toda a seção.
v  .Luminosidade - deve ser bem distribuída, de modo que não incida diretamente sobre os produtos armazenados.
v  .Temperatura ambiente (entre 15 a 30 C)
v  .Proteção contra incêndio.
v  .Proteção contra insetos e roedores.
v  .Proteção contra roubos e furtos.

E - EQUIPAMENTOS/ MOBILIÁRIOS

v  .Estantes
v  . Estrados
v  . Rede de frio (geladeira doméstica, freezer, refrigerador, câmara fria)
v  .Balança
v  .Empilhadeira
v  .Escada

F - CUIDADOS GERAIS NA ESTOCAGEM DE MEDICAMENTOS

v  Dispensar o estoque mais antigo primeiro
v  Estoques que vencem primeiro devem ficar na frente
v  A arrumação dos itens deve facilitar sua localização
v  Observar o espaçamento para as paredes
v  Os produtos não devem ser colocados diretamente sobre o piso.
v  Observar as condições de estocagem conforme a monografia de cada produto
v  Observar o empilhamento máximo
v  Observar sinais de instabilidade
v  Observar a rotulagem, principalmente dos produtos embalados.
v  Embalagem: recipiente correto e fechamento adequado
v  Informar ao cliente os cuidados necessários.

G - CONTROLE DE ESTOQUE

v  As farmácias não informatizadas devem possuir fichário onde serão arquivadas fichas de estoque, uma para cada medicamento. Estas fichas devem conter: data de entrada do medicamento, procedência do mesmo, nº do documento de entrada, quantidade, validade, saída e perdas.
v  Ao receber o medicamento, o funcionário responsável deverá registrar a entrada de todos os produtos recebidos, só depois é que se procede a estocagem.
v  Diariamente deve ser registrada a saída dos medicamentos.
v  Para isso pode-se contar com o auxílio de um mapa diário de medicamentos onde se registra o quantitativo dispensado de cada um. Assim atualiza-se o estoque.
v  O farmacêutico ficará responsável pelo controle de movimentação de estoque dos medicamentos controlados, fazendo isso em livros específicos registrados na Vigilância Sanitária.
v  Os demonstrativos de Movimentação de Medicamento devem conter: nome do Hospital ou unidade de saúde, do responsável pela farmácia, nome do medicamento, saldo anterior, entrada, saída, perda, saldo final, e demanda reprimida.
v  O responsável pelo controle de estoque deve ficar sempre atento aos prazos de validade, devolvendo à chefia aqueles medicamentos que não serão totalmente consumidos.
v  Esta devolução só será efetivada com a apresentação da ata de devolução devidamente preenchida em, no mínimo, três (meses) antes do vencimento.
v  Produtos vencidos ou com embalagens e ou conteúdos deteriorados devem ser retirados das prateleiras e descartados de acordo com a legislação vigente para sua inutilização ou para dar o encaminhamento que se fizer necessário.
v  As requisições devem ser feitas com critério, levando-se em conta o perfil da unidade e o consumo médio mensal deixando sempre uma margem de segurança (de cerca de 10%), para as possíveis oscilações de consumo.
v  Nas unidades onde o controle de estoque já está informatizado, o programa deve registra todos os dados referentes às especificações do medicamento, já citados anteriormente na ficha de controle. Os estoques devem ser inventariados periodicamente e qualquer irregularidade deve ser minuciosamente apurada.
v  Cada unidade definirá a frequência dos balanços (mensal, trimestral, semestral etc).
v  O responsável pela previsão de consumo deve trabalhar em conjunto com o restante da unidade e estar atento à introdução de novos procedimentos, criação de novos programas de saúde, aumento de consultas, chegada de novos especialistas e aumento ou diminuição de demanda no hospital ou unidade de saúde.
v  É responsabilidade dos almoxarifados de medicamentos, modernamente chamados de Centrais de Abastecimento Farmacêutico (CAF) o planejamento, a direção e o controle do processo de recepção, armazenamento e distribuição dos produtos estocados.
v  Deve ainda coordenar, supervisionar e avaliar as funções que são desenvolvidas nos diferentes setores que formam o armazém. Cabe ainda a esta atividade a revisão de toda a documentação referente ao ingresso de medicamentos, como também a sua posterior saída.
v  Medicamentos, germicidas e correlatos não são materiais comuns exigindo uma série de condições ideais para manterem inalteráveis suas propriedades físico-químicas.
v  Os próprios serviços de farmácia, até pouco tempo atrás, eram vistos como depósitos de medicamentos sem, entretanto, que fossem exigidos requisitos mínimos de armazenagem e conservação. Com o crescimento e consequente conhecimento sobre Farmácia Hospitalar a situação se modificou. Qualquer almoxarifado precisa contemplar vários itens para poder abrigar esses produtos:
v  No armazenamento de medicamentos estão compreendidas as atividades de recepção, classificação, guarda, eventual manipulação e controle dos produtos devendo assegurar uma rápida localização, segura identificação e o máximo aproveitamento do espaço.

H - AVALIAÇÃO DA ARMAZENAGEM DE MEDICAMENTOS

v  .Grau de adequação às boas práticas de estocagem (extintor de incêndio, termômetro p/ temp. ambiente, suprimento alternativo de energia para geladeira);
v  .Grau de concordância entre a contagem física e o registro de inventário;
v  .% medicamento c/ prazo de validade vencido.

9 - ESTUDOS DE UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS (EUM)

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os estudos de utilização de medicamentos (EUM) seriam aqueles relacionados com a comercialização, distribuição, prescrição e uso de medicamentos em uma sociedade, com ênfase sobre as consequências médicas, sociais e econômicas resultantes (WHO, 1977)

v  Estudos de Utilização de Medicamentos - EUM
v  Estudos de consumo
v  Estudos de prescrição – indicação
v  Estudos de indicação – prescrição
v  Estudos sobre o esquema terapêutico
v  Estudos dos fatores que condicionam os hábitos de prescrição e dispensação.
v  Estudos das consequências práticas da utilização dos medicamentos
v  Estudos de intervenção

10 – PROGRAMAÇÃO DE MEDICAMENTOS

10-1 - CONCEITUAÇÃO:

Tem como função quantificar as necessidade de medicamentos para um período determinado com o objetivo de planejar e programar a compra, que dizer, estabelecer as quantidades que serão compradas de cada medicamento e o momento em que se deve fazer a compra, compatibilizando o processo com os recursos disponíveis.

10.2 - ASPECTOS IMPORTANTES NA PROGRAMAÇÃO DE MEDICAMENTOS

DIFERENÇA ENTRE CONSUMO E NECESSIDADE

CONSUMO

Consumo é a quantidade de medicamentos efetivamente utilizados em um intervalo de tempo (dias, semanas, meses, ano). Pode ocorrer em função da necessidade real ou pode se originar de condutas irracionais de prescrição, dispensação e/ou automedicação, valores éticos, culturais e influências de origem outra, como mercado e propaganda.

NECESSIDADE

A necessidade de medicamentos está diretamente relacionada à prevenção, ao controle ou à cura de agravos à saúde dos usuários dos serviços de saúde. Normalmente, é definida por um terceiro, o prescritor, com base nos seus conhecimentos técnicos, que se espera estarem substanciados na melhor evidência disponível no momento (Osorio-de-Castro et al., 2000), na adesão a protocolos terapêuticos, na disponibilidade de medicamentos considerados essenciais e no uso racional de medicamentos. É importante salientar que a programação com base exclusivamente em consumo pode reproduzir equívocos e distorções decorrentes de condutas irracionais quanto à utilização de medicamentos

10.3 - MÉTODOS DE QUANTIFICAÇÃO PARA A PROGRAMAÇÃO DE MEDICAMENTOS

Existem vários métodos para programar medicamentos. Eles devem ser escolhidos
tendo em vista os recursos e informações disponíveis (MSH, 1997). São eles:

I. Perfil epidemiológico;
II. Oferta de serviços;
III. Consumo histórico;
IV. Consumo ajustado.

I - PERFIL EPIDEMIOLÓGICO

Esse método baseia-se, fundamentalmente, nos dados de incidência e prevalência dos principais problemas de saúde que acometem uma determinada população, considerando-se o perfil demográfico, os esquemas terapêuticos preconizados, a capacidade instalada (oferta de serviços e estrutura oferecida à população) e a possível ocorrência de fenômeno de sazonalidade.

O método inicia-se com o diagnóstico situacional de saúde da população, no qual são analisadas as enfermidades prevalentes e incidentes sobre as quais devem incorrer as ações de intervenção sanitária que possam gerar impacto positivo no quadro de morbi-mortalidade.

Pode-se, ainda, aliar o aporte da farmacoepidemiologia para avaliar o padrão de utilização de medicamentos de modo a aumentar a acurácia do método.

O uso crítico dos dados epidemiológicos é o primeiro caminho para que se possa melhorar a qualidade do serviço de saúde. A falta de notificação de certas doenças, o mau preenchimento de atestados de óbitos, erros de diagnósticos, insuficiência de recursos tecnológicos para informatização plena das redes e deficiência de pessoal são fatores que comprometem a qualidade dos registros.

A programação por perfil epidemiológico não requer, obrigatoriamente, dados de consumo, e é aplicável quando não se dispõe de informações acerca da utilização de medicamentos; é também aplicável quando se planeja a instalação de novos serviços na rede de saúde. A efetividade do método, no entanto, depende da adesão dos prescritores aos protocolos terapêuticos consensuados.

Pode haver risco de sub ou superestimativas se houver falta de acurácia dos dados coletados, confiabilidade duvidosa dos registros epidemiológicos ou desconsideração quanto à cobertura dos serviços. Se a oferta de serviços for insuficiente, será muito difícil estimar demanda real.

PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS

1. Relacionar os principais problemas de saúde por grupo de pacientes e faixa etária.
2. Determinar taxa de morbidade e mortalidade para grupos específicos por idade e sexo.
3. Analisar a ocorrência das enfermidades em função do período de tempo, incluindo a sazonalidade. Ex.: A maior incidência de infecções respiratórias no inverno.
4. Relacionar os medicamentos segundo a abordagem prevista no protocolo previamente definido, tendo em conta as primeira e segunda escolhas e os esquemas de tratamento.
5. Estimar a quantidade de medicamentos necessária para tratar a população-alvo prevista para adoecer por patologia: dose/dia X duração de tratamento X população alvo a ser atendida.

II - OFERTA DE SERVIÇOS

É um caso particular de programação, em que se emprega o mesmo tipo de lógica presente no método do perfil epidemiológico: aqui se examina basicamente a rede instalada para tratamento de uma ou outra enfermidade e estimam-se as necessidades da população atendida perante ela. A oferta de serviços depende da relação existente entre os problemas de saúde e a disponibilidade de ofertar os serviços ou cuidados de saúde necessários (capacidade instalada).

Portanto, é preciso conhecer tais necessidades e serviços de saúde que são ofertados à população, por nível de complexidade, para se programar adequadamente. Esse método reflete somente o que foi ofertado e demandado por aquela parcela da população que teve acesso aos serviços de saúde, não considerando possíveis ineficiências na oferta e prestação dos serviços.

PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS

1. Levantar informações sobre os registros dos atendimentos realizados nas várias unidades da rede de saúde (centros e postos de saúde, ambulatórios, hospitais etc.).
2. Sistematizar as informações, relacionando os diagnósticos mais comuns e a freqüência de ocorrência de doenças por determinado período de tempo.
3. Verificar esquemas terapêuticos.
4. Estimar necessidades para cada caso.
5. Estimar as necessidades totais por meio do produto do número de casos de enfermidades atendidos por ano pelas quantidades estimadas para cada tratamento, de acordo com os esquemas terapêuticos preconizados.
6. Estimar as quantidades a adquirir.
7. Calcular o custo estimado.

PROGRAMAÇÃO DE MEDICAMENTOS PARA DIABÉTICOS EM ATENDIMENTO EM UNIDADE DE SAÚDE ESPECÍFICA

1) levantamento das fichas cadastrais dos pacientes hoje em tratamento (n=34);
2) classificação dos mesmos por regime terapêutico seguido pelo prescritor;
3) cálculos de demanda por tratamentos unitários/mês;
Classificação A: hipoglicemiante oral Z (2 comp/dia)
Classificação B: hipoglicemiante oral Z (2 comp/dia)+ hipoglicemiante oral W
(3 comp/dia)
Classificação C: insulina Y (3 frascos mês)
4) multiplicação pelo número estimado de tratamentos em cada classe para o período
24 pacientes em A     2 x 24 = 48/mês de Z
4 em B -                     4 x 2 = 8/mês de Z
                                   4 x 3 = 12/mês de W
6 pacientes em C -     6 x 3 = 18 frascos/mês de insulina Y

DEMANDA ESTIMADA
total de Z -                  48 + 8 = 56/mês ou 672/ano
total de W                   12/mês ou 144/ano
total de insulina Y      18 frascos/mês ou 216/ano

Como no caso anterior, os estoques existentes devem ser considerados.

III -- O CONSUMO HISTÓRICO

O método consiste na análise do comportamento do consumo dos medicamentos com base em uma série histórica, possibilitando estimar necessidades fundamentadas na frequência e intensidade de utilização dos mesmos ao longo do tempo. Para a aplicação do método, são necessários a existência de registros de movimentação de estoques, de dados de demanda real (atendida e não atendida), de inventários com dados históricos de pelo menos 12 meses, incluídas as variações sazonais.

Com esses dados, consolida-se a demanda real, desde que não ocorram faltas prolongadas de medicamentos e que as informações fornecidas sejam confiáveis. De resto, estima-se a necessidade sempre tendo em vista a posição dos estoques, como em qualquer método.

Se ocorrer falta de medicamentos por um período de tempo, deve-se fazer o ajuste do consumo. Para se obter uma efetiva programação por consumo histórico, faz-se necessário que as informações de consumo sejam consistentes e confiáveis.

O método de consumo histórico é o mais empregado. Não requer dados de morbimortalidade ou de esquemas terapêuticos. Seus cálculos são bem simples e ele é geralmente bastante seguro na estimativa de quantidades, desde que os registros sejam confiáveis e suficientemente detalhados.

Em contrapartida, o método tende a falhar em casos de falta de dados fidedignos e nos casos de longos períodos em desabastecimento, quando se torna impossível estimar os parâmetros de cálculo, em especial o consumo médio mensal (CMM).

Como os dados de consumo são geralmente estimados por aproximações dos dados de fornecimento (Opas, 1990), haverá casos de superestimativa de consumo quando ocorrerem desvios, má utilização ou falta de adesão ao tratamento, e subestimativas quando o acesso estiver prejudicado, seja por falha na cobertura proposta ou por oferta deficiente.

Essas discrepâncias, para serem diagnosticadas, requerem auxílio de outros métodos de programação (como o estabelecimento de perfil epidemiológico) ou de avaliação. Erros desse quilate podem também promover a irracionalidade do consumo, por irracionalidade de oferta.

PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS

1. Levantar uma série histórica de consumo de medicamentos representativa no tempo. Quanto maior for esse tempo, maior será a precisão e segurança dos dados utilizados na determinação das quantidades necessárias.
2. Calcular o consumo médio mensal (CMM), com base na operação anterior, ajustado pela demanda não atendida e pelo comportamento dos valores relativos ao consumo de cada item – a magnitude da variação de um mês para o outro, se há tendência de queda ou elevação de consumo, se o perfil reflete padrão (sazonal ou não) ou se é errático.
3. Calcular a necessidade para o período da programação.
4. Estimar as quantidades a adquirir.
5. Calcular o custo estimado.

CONSUMO MÉDIO MENSAL (CMM)

O Consumo médio mensal (CMM) para cada medicamento corresponde à soma do total consumido em determinado período de tempo dividido pelo número de meses em que cada produto efetivamente esteve disponível e foi utilizado. Quanto mais regular é a disponibilidade do estoque ou o fornecimento, mais sensível será o resultado obtido.

Se 2.000 unidades do medicamento X foram consumidas em quatro meses, estando o mesmo disponível em todo o período, o CMM do medicamento X foi de 500 unidades/mês.

Em contrapartida, se as mesmas 2.000 unidades foram consumidas durante o mesmo período, mas por razão de desabastecimento esse medicamento esteve em falta por três meses, então o CMM pode ser estimado em 500 unidades/mês, mas o resultado é pouco preciso. Na verdade, as 2.000 unidades foram consumidas em um único mês.

É difícil prever se o mesmo padrão se manteria caso o medicamento estivesse disponível por todo o período. No caso desse exemplo, pode estar ocorrendo um viés no CMM pela magnitude da demanda não atendida.

O erro aqui seria de: 2.000 unidades/mês x 3 meses = 6.000 unidades
O CMM de 500 unidades/mês corresponde a 25% do CMM real.

Este foi um exemplo no qual a estimativa pelo consumo histórico não deveria ser usada sem uma análise mais detalhada.

Quando os dados estão distribuídos em período mais longo de tempo, falhas como a relatada acima se diluem na programação, possibilitando erro menor.

IV - CONSUMO AJUSTADO

Há situações em que não se tem disponibilidade alguma de dados, seja de consumo, seja demográficos ou epidemiológicos. Nesses casos, pode-se empregar o método de extrapolação de dados de consumo de outras regiões ou sistemas (MSH, 1997).

A programação por consumo ajustado ‘importa’ a programação efetuada para outras áreas. Geralmente, tal programação emprega uma área considerada padrão e extrapola as taxas de consumo e utilização para o serviço chamado alvo. Ela dá uma estimativa grosseira da demanda, não levando em consideração quaisquer parâmetros locais, utilizando, contudo, dados de cobertura de serviços e da complexidade dos mesmos.

PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS (MSH, 1997)

1) selecionar o serviço ou área considerada padrão (A). Esta deve estar inserida em local e condições o mais semelhantes possível aos da área ou serviço (B) para o qual desejamos extrapolar os dados. Quanto melhor for a qualidade do padrão escolhido, mais fidedigna será a extrapolação;
2) determinar o número de meses em que se fará a revisão de dados (período);
3) revisar os atendimentos que se processaram durante o período no serviço padrão (A);
4) determinar o denominador a utilizar (habitantes na região, total de atendimentos etc.) para o serviço padrão (A);
5) determinar a taxa de consumo para cada medicamento no serviço padrão (A), utilizando a equação abaixo a partir do cálculo da demanda real (Equação 2):

Equação 5
Taxa de consumo A = Demanda real A/denominador escolhido (no item 4)

6) extrapolar a taxa de consumo A para o sistema ou unidade-alvo (B), multiplicando essa taxa pelo no de atendimentos da unidade/sistema B, ou pelo no de habitantes da região B (a mesma unidade usada para o denominador da taxa de consumo, só que aplicado ao sistema/unidade-alvo).
7) adicionar percentuais para cobrir eventuais perdas, já que a estimativa é bastante grosseira;
8) estimar custos unitários e totais.

PROGRAMAÇÃO POR CONSUMO AJUSTADO

Tomemos aqui como exemplo sulfato ferroso oral:
Sistema padrão A

100.000 habitantes;
35.000 atendimentos
Consumo total no período: 35.750 unidades
Dias em desabastecimento: 60
Período a examinar: 15 meses
Sistema-alvo B
90.000 habitantes;
No desconhecido de atendimentos
Período a programar: 12 meses
Preço unitário: R$ 0,02
D real = 35.750/13 = 2.750
Taxa de consumo = 2.750/100.000 = 0,0275
Q estimada no sistema-alvo = 0,0275 x 90.000 habitantes (alvo) 2.475
2.475 + 15% = 2.846 unidades.

10.4 - ASPECTOS TÉCNICOS DA PROGRAMAÇÃO DE MEDICAMENTOS

INFORMAÇÕES MÍNIMAS NECESSÁRIAS

v  .Consumo histórico de cada medicamento;
v  .Períodos de desabastecimento;
v  .Consumo estimado para cada medicamento;
v  .Saldo de cada medicamento ao fim do período;

ESTIMATIVA PARA O NOVO PERÍODO DEVE CONSIDERAR:

v  .Metas de produção do hospital;
v  .Possíveis modificações na demanda da atenção;
v  .Perfil epidemiológico e missão/objetivos/metas da instituição;
v  .Esquemas de tratamento utilizados;
v  .Curva ABC e curva VEM.


LISTA DA LEGISLAÇÃO APLICÁVEL

1 - Aprova o Plano da Farmácia Hospitalar, procedendo à revisão do Plano aprovado
pela Resolução de Conselho de Ministros n.º 105/2000, de 11 de Agosto.
Resolução de Conselho de Ministros n.º 128/2002, de 25 de Setembro

2 - Transpõe para a ordem jurídica nacional a Directiva Europeia sobre Ensaios Clínicos,Directiva n.º 2001/20/CE.
Lei n.º 46/2004, de 19 de Agosto

2 - Regulamento geral da Farmácia Hospitalar.
Decreto-Lei n.º 44 204, de 2 de Fevereiro de 1962

4 - Dispensa de medicamentos pela farmácia hospitalar por razões objectivas.
Decreto-Lei n.º 206/2000, de 1 de Setembro

5- Regime jurídico do tráfico e consumo de estupefacientes.
Decreto-Lei n.º 15/93, de 22 de Janeiro e sua alteração pela Lei n.º 45/96, de
3 Setembro

6 - Regulamenta o Decreto-lei n.º 15/93.
Decreto – Regulamentar n.º 61/94, de 12 de Outubro

7 - Regulamento do Sistema Nacional de Farmacovigilância.
Decreto-Lei n.º 242/2002, de 5 de Novembro

8 - Regime jurídico a que devem obedecer a preparação e a dispensa de medicamentos manipulados.
Decreto-Lei n.º 95/2004 de 22 de Abril

9 - Distribuição de Medicamentos Hospitalares.
Portarias e Despachos de “Acesso aos medicamentos unicamente de distribuição hospitalar ou com participação a 100 % no hospital”.

10 - Armazenamento de Produtos Inflamáveis.
Portaria n.º 53/71 de 3 de Fevereiro

11- Guia para o bom fabrico de medicamentos.
Portaria n.º 42/92, de 23 de Janeiro

12 - Aprova as boas práticas a observar na preparação de medicamentos manipuladosem farmácia de oficina e hospitalar.
Portaria n.º 594/2004 de 2 de Junho

13 - Distribuição de medicamentos hospitalares em sistema unidose.
Despacho Conjunto dos Gabinetes dos Secretários de Estado, Adjunto do
Ministro da Saúde e da Saúde, de 30 de Dezembro de 1991

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


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