sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

PRÁTICA DE FARMACOTÉCNICA : PÓS-SIMPLES E COMPOSTOS.

PRÁTICA DE FARMACOTÉCNICA :

PÓS-SIMPLES E COMPOSTOS





PROCESSOS DE PULVERIZAÇÃO DE PÓS

1 -  PULVERIZAÇÃO POR ATRITO OU TRITURAÇÃO.
Ø  Usado para drogas em geral.
Ø  Utiliza movimentos do pistilo em espiral.
Ø  Usa gral de porcelana e/ou vidro.

2 -  PULVERIZAÇÃO POR CONTUSÃO OU CHOQUE.
Ø  Usado para drogas vegetais brutas ou para produtos químicos na forma de cristais grandes.
Ø  Utiliza movimentos do pistilo em vertical ("ato de bater na droga").
Ø  Usa gral de ferro ou de materiais ainda mais duros.

3 - PULVERIZAÇÃO POR MOINHOS (ESCALA INDUSTRIAL).
Ø   Moinho de faca ou martelo.
Ø  Moinho de bolas.

4 -- PROCESSOS ESPECIAIS

4.1 - Pulverização por intermédio:
Ø  Intermédio é uma substância estranha que facilita a redução da segunda substância em pó.
Ø  O intermédio pode ser líquido, sólido ou gasoso:

Exemplos: Substância Intermédio
Ø  Mentol ou canfora Éter ou álcool (líquido)
Ø  Baunilha Açúcar (sólido)

4.2 - Pulverização química.

Ø  D.2.1 - Hidratação.
CaO + H2O = Ca(OH)2 (Água de cal)
Ø  D.2.2 - Desidratação.
CuSO4.5H2O + Aquecimento ® CuSO4¯ + 5H2O
Contra-exemplo:
Na2SO4.10H2O ou Na3PO4.12H2O + Aquecimento ® Funde ou encrosta (não Desidrata)

4.3 - Reação química.

CaCl2 + Na2CO3 ® CaCO3¯ + 2NaCl

4.4 Tamisação.

Tem por finalidade obter pós com a mesma tenuidade (tamanho médio similar). É feita em tamises que são classificados como está descrito na tabela.

Tamis no (Mesh)
Abertura (mm)
2
9,52
Muito grosso
8
2,38
Muito grosso
10
2,00
Muito grosso
20
0,84
Grosso
30
0,59
Grosso
40
0,42
Moderadamente grosso
50
0,297
Moderadamente grosso
60
0,250
Fino
80
0,177
Muito fino
120
0,125
Muito fino
200
0,074
Micronizados
325
0,044
Micronizados

HOMOGENEIZAÇÃO DE PÓS.

Deve ser feita com pós de tenuidade similares. Ela pode ser feita por trituração, espatulação (?), tamisação ou mistura (saco plástico ou misturador em V).

PROBLEMAS RELACIONADOS À MANIPULAÇÃO DE PÓS.



Problema
Medida corretiva

Formação de mistura eutética(pós se liquefazem à temperatura ambiente após serem misturados em determinada proporção).

Interpor entre os pós incompatíveis um pó absorvente de elevada temperatura de fusão (exs: MgCO3, MgO, caulim, amido, talco, etc.).
Formação de misturas explosivas(trituração de agentes oxidantes e redutores fortes).
Evitar ou interpor pós inertes entre o agente oxidante e o redutor.
Pós Higroscópicos (absorvem umidade do ar) e Deliqüescentes(se liquefazem total ou parcialmente).
Controlar a umidade relativa do ar, granular os pós, manipular evitando a exposição à atmosfera úmida, adicionar um pó absorvente à preparação.
Pós eflorescentes (aqueles que possuem água de hidratação que é liberada tornando o pó pastoso ou liquefeito).
Substituir o pó hidratado pelo anidro ou secar o pó antes de manipula-lo.
Pós leves e “fofos”.
Compactar com álcool ou óleo mineral.
Pós de difícil escoamento.
Acrescentar estearato de magnésio em concentração inferior a 1%.
Pós com carga estática.
Neutralizar as cargas com laurilsulfato de sódio em concentração inferior a 1%.
Incorporar líquidos à pós.
Além do líquido acrescentar um pó absorvente; concentrar o líquido até uma consistência mais viscosa.

REGRAS GERAIS PARA A PREPARAÇÃO DE PÓS-COMPOSTOS.

1 - Antes iniciar a preparação do pó composto, verifique se existe incompatibilidade entre os pós simples. Caso haja alguma incompatibilidade, verifique qual seria a maneira de eliminar essa incompatibilidade.

2 - Pulverize em gral (de vidro para substâncias coloridas ou com cheiro) e tamise isoladamente cada um dos pós presentes na fórmula. Caso necessário utilise um intermédio.

3 - No caso de haver um pó em quantidade muito pequena, acrescente um corante visando facilitar a visualização da mistura.

4 - Homogeneíze seguindo a Regra do Mistão (ordem crescente de quantidade) adicionando o excipiente em qsp, por último. Misture em um gral utilizando o método da diluição geométrica. Tamise a mistura final.

5 - Envase em frasco de vidro âmbar ou em um saco plástico de tamanho compatível com o volume formulado visando obter uma melhor estética e até mesmo dificultar degradações. Antes do envase verifique a compatibilidade da preparação com o material de envase.

6 - Rotule e registre.

PÓS DILUÍDOS.

A maioria das substâncias encontradas no mercado, diluídas (Vitamina E à 50% e Betacaroteno à 10%, por exemplo) ou não, são de fácil pesagem em relação a dose desejada. Entretanto, são também encontrados princípios ativos muito potentes em baixa concentração (drogas heroicas).

Estas drogas podem ser diluídas de tal forma que a dosagem seja de fácil pesagem, evitando riscos de sobredosagens. Usualmente, esta diluição é feita utilizando um pó inerte tal como a lactose, o talco, o amido, etc.

Após escolher o diluente de acordo com a sua compatibilidade em relação ao princípio ativo e com a formulação a ser empregada, o princípio ativo é diluído à 1:10 (exemplos: Alprazolam, Clonazepam, Diazepam, Prednisolona, etc.), 1:100 (exemplos: Bumetamida, Clonidina, Digitoxina, Digoxina, Fludrocortisona, etc.) ou à 1:1000 (exemplos: T3, T4) antes de ser estocado.
Estes pós diluídos; denominados respectivamente de pós decimais, centesimais ou milesimais; são os empregados no momento de elaborar a formulação.

PÓS EFERVESCENTES.

A efervescência destina-se a proporcionar um paladar agradável, corrigindo eventualmente o gosto de certos fármacos utilizando as propriedades ácidas do CO2, o qual vai ainda atuar secundariamente como estabilizante da mucosa gástrica, podendo aumentar a absorção do medicamento.

A efervescência é conseguida à custa da reação de um carbonato ou bicarbonato com um ácido orgânico, como o cítrico ou o tartárico, na presença da água usada para a ingestão do medicamento, produzindo-se a liberação de CO2.

Geralmente usa-se uma quantidade fixa e arbitrária de ácido tartárico, ácido cítrico ou NaH2PO4, podendo ainda associarem-se estes três compostos. A quantidade de NaHCO3 que é necessária adicionar pode-se calcular em função da acidez conferida pelos ácidos e o NaH2PO4, de tal modo que a reação entre eles em presença de água, gera uma solução próximo da neutralidade.

Os pós efervescentes constituem uma fórmula dotada de má conservação, pois absorvem facilmente umidade atmosférica dada a grande superfície que apresentam. É por isso que eles são geralmente substituídos por granulados, menos sujeitos a esta alteração.

REGRAS GERAIS PARA A PREPARAÇÃO DE PÓS EFERVESCENTES.

Além das regras utilizadas para a preparação de pós compostos, devemos:

a - Logo após a pulverização e tamisação de cada um dos pós presentes na fórmula, secar cada um desses pós em estufa à 50-60°C durante 20 minutos.

b - Pulverizar e tamisar isoladamente cada um dos pós secos, misturá-los em um gral. Secar o pó composto obtido em estufa à 50°C durante 20 minutos aproximadamente.

c - Após o término da etapa anterior, caso necessário, tamisar a mistura final obtida. embalar, rotular e registrar conforme as mesmas exigências dos pós compostos acima descritas.

PAPÉIS MEDICAMENTOSOS E GRANULADOS

PAPÉIS MEDICAMENTOSOS OU PÓS DIVIDIDOS.

São formas farmacêuticas em pó acondicionados de forma individual onde cada papel corresponde a uma dose. Eles podem ser obtidos por DIVISÃO GEOMÉTRICA, DIVISÃO VISUAL, PESADOS UM A UM, ou ainda, utilizando MEDIDORES DE VOLUME.

GRANULADOS.

Pode ser uma forma farmacêutica definitiva ou ser uma etapa intermediária para a obtenção de comprimidos. Os granulados podem ser obtidos por via seca ou via úmida e possuem as seguintes vantagens em relação aos pós compostos:
1.     Não libertam pó durante a armazenagem e administração.
2.     Mais agradáveis de ingerir.
3.     Melhor conservação devido a menor superfície.
4.     Existe a possibilidade de revesti-los tornando-os gastroresistente ou de ação prolongada.
NOTA: Deve-se durante a granulação deixar uma quantidade de excipiente à parte (10 a 20%) visando fazer, em caso de necessidade, futuras correções.

CÁPSULAS GELATINOSAS (DURAS), PASTILHAS E PÍLULAS.

CÁPSULAS GELATINOSAS.

1 - CONCEITO.
"São formas farmacêuticas sólidas que encerram o fármaco em invólucro mais ou menos elástico, constituído de gelatina".

2 - VANTAGENS.

· Proteção dos princípios ativos contra luz, ar e umidade.
· Facilmente administradas.
· Mascaram o sabor e o odor desagradáveis dos fármacos.
· Ocupam pequeno volume.
· Boa apresentação e conservação.
· Podem viabilizar a administração de medicamentos de ação prolongada (utilização de grânulos de diferentes liberações).

3 - PREENCHIMENTO DAS CÁPSULAS.

3.1 - As cápsulas gelatinosas duras são encontradas no mercado em vários tamanhos, cada qual com uma capacidade específica para acondicionar um determinado volume de pó. Cada tamanho é designado por um número arbitrário. Quanto maior o número, menor a capacidade do invólucro.

Número
Capacidade
(mL)
Diâmetro
(cm)
Comprimento
(cm)

00

0,95

0,85

2,03

0A

0,75

0,80

2,02

0

0,68

0,73

1,85

1

0,50

0,66

1,67

2

0,38

0,60

1,54

3

0,30

0,56

1,36

De acordo com a densidade do fármaco, podem ocorrer variações na relação massa/volume. Um mesmo fármaco fornecido por distribuidores diferentes, com a mesma massa, mas com densidades distintas ocuparão volumes diferentes numa mesma cápsula.
Dap = M/Vap onde: Dap = densidade aparente
M = massa
Vap = volume aparente
Exemplo 1: 500 mg de carbonato de cálcio (fornecedor A) cuja densidade é 0,523 g/mL ocupará um volume V por cápsula, que será calculado.
Dap = M/Vap Þ 0,523 g/mL = 0,500 g/V Þ V =0,95 mL

Pelo volume de carbonato de cálcio ele deverá ser acondicionado na Cápsula 00.
Exemplo 2: 500 mg de carbonato de cálcio (fornecedor B), Dap=0,73 g/mL e Vap=0,68 mL, deverá ser acondicionado na Cápsula 0.

3.2 - Quando a dose ultrapassa a capacidade da maior das cápsulas (00), faz-se necessário usar mais de uma cápsula para acondicionar uma únicas dose do fármaco. Quando isso acontecer É MUITO IMPORTANTE escrever no rótulo e orientar o paciente para a utilização correta da dose prescrita.

3.3 - Um aspecto a se considerar é a porção farmacológicamente ativa da molécula.
Exemplo 1: CaCO3 500 mg.
A farmácia entenderá que o médico está pedindo que cada dose contenha 500 mg de CaCO3, os quais fornecerão 200 mg de cálcio elementar. O mesmo ocorrerá se a prescrição tiver a descrição cálcio carbonato 500 mg.
Exemplo 2: Cálcio (carbonato) 500 mg.

A farmácia entenderá que o médico está pedindo que cada dose contenha 500 mg de cálcio elementar. Portanto, serão utilizados 1250 mg de carbonato de cálcio que fornecerão os 500 mg de cálcio solicitados. É FUNDAMENTAL QUE A PARTE "INATIVA" DA MOLÉCULA SEJA DESCRITA ENTRE PARÊNTESES.

3.4 - Alguns fármacos somente são encontrados no mercado na sua forma diluída. Por exemplo temos a Vitamina E pó que somente é encontrada à 50 %. Caso o médico prescreva Vitamina E 400 mg, a farmácia deverá usar 800 mg da matéria prima (Vitamina E à 50 %).

3.5 - Sendo volumétrico o processo de enchimento das cápsulas, impõem-se que estas fiquem perfeitamente cheias, pois de modo contrário haverão erros posológicos. Além disso, não é aconselhável a existência de uma camada de ar sobre os pós susceptíveis de oxidação. Nestes casos, é necessário completar com um pó inerte o volume da cápsula, caso o volume de princípio ativo seja inferior a 90 % da capacidade do receptáculo.

3.5.1 - Deve-se considerar a densidade do p.a. e do diluente quando este último for necessário.
V = M1/D1 + M2/D2 (Índice l para o p.a. e índice 2 para o diluente)
3.5.2 O aparelho utilizado para o preenchimento das cápsulas é chamado de capsuleiro e eles podem ter diferentes tamanhos. Para um capsuleiro n°00, 2.6% de erro é encontrado para um operador experimentado.

PASTILHAS.

1 - CONCEITO

"São preparações farmacêuticas de consistência sólida, destinadas a dissolverem-se lentamente na boca. São preparadas por moldagem de uma massa plástica constituída, na maioria das vezes, por mucilagem e/ou açúcar associado a princípios ativos".

2 - TIPOS.

· Com grande quantidade de açúcar e mucilagens. Feita a frio.
· Com elevado teor de goma. Feita a quente.
· Sem mucilagem, sómente açúcar (pouco usada).
· Contendo gelatina (glico-gelatina).

PÍLULAS.

1 - CONCEITO.

"São formas farmacêuticas de consistência firme, de formato globular contendo um ou mais princípios ativos incorporados a excipientes adequados destinadas a serem deglutidas sem se desfazerem na boca".

2 - VANTAGENS.

· Facilidade de administração.
· Encerra grande quantidade de p.a.
· Odor e sabor atenuados ou evitados.
· Fácil produção.
· Passível de revestimento gastro-solúvel e gastro-resistente.

3 - DESVANTAGENS.

· Desagregação lenta.
· Não apropriadas para pós volumosos ou para líquidos.


FONTE : Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Farmácia, Departamento de Produtos Farmacêuticos

BIBLIOGRAFIA BÁSICA:

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6.    FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 4 ed. Parte I. São Paulo: Atheneu, 1988.
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