terça-feira, 21 de janeiro de 2014

O FARMACÊUTICO INTENSIVISTA


O FARMACÊUTICO INTENSIVISTA


SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA- SOBRATI
MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA
NIEDJA MARIA COELHO ALVES

Farmacêutico Intensivista: um novo profissional na UTI

JOÃO PESSOA- PB
2012

NIEDJA MARIA COELHO ALVES


Farmacêutico Intensivista: um novo profissional na UTI


Tese apresentada a Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Terapia Intensiva.

Orientador: Dr. Douglas Ferrari
João Pessoa- PB
2012

RESUMO

Atualmente, as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) reúnem diversos profissionais de saúde, de diferentes formações e conhecimentos específicos, trabalhando em conjunto para garantir a integralidade do cuidado ao paciente. Neste contexto, a figura do Farmacêutico Clínico surge para integrar a equipe com seu conhecimento técnico, científico e humanístico, com a finalidade de garantir economia e o uso racional dos medicamentos, sem que para isto, sem perda da qualidade e eficácia do tratamento. A inserção do Farmacêutico Clínico nas UTI enfrenta dificuldades e as principais são: inexistência de cursos para formação específica e disponibilidade de profissionais que possam assumir atividades exclusivamente clínicas, ao mesmo tempo que o hospital disponha de outros farmacêuticos para as atividades logísticas e administrativas. A intervenção farmacêutica na terapia medicamentosa é parte integrante do processo de acompanhamento farmacoterapêutico, assegurando um tratamento adequado, efetivo e seguro, com importantes conseqüências para a melhora do paciente. A descentralização da farmácia com instalação de Farmácias Satélite e a implantação do sistema de distribuição de medicamentos por dose unitária se constituem excelentes estratégias para uma otimização na distribuição dos medicamentos nas diferentes unidades assistenciais, a exemplo da UTI. As ocorrências iatrogênicas são consideradas responsáveis pela maior parcela das complicações em UTI, trazendo conseqüências imprevisíveis, porém evitáveis. A literatura atribui como fatores contribuintes para estes erros, na categoria recursos humanos, o desconhecimento sobre as drogas por parte da enfermagem enfatizando a necessidade de treinamentos e formação acadêmica como medidas preventivas. Alguns serviços já dispõem da presença do Farmacêutico Clínico, onde este atua no controle das infecções hospitalares, participando da elaboração de protocolos clínicos, no monitoramento das prescrições, na padronização de medicamentos, em especial os antimicrobianos, no ajuste de doses em UTI neonatal e pediátrica, além da UTI cardiológica, a qual conta a presença de pacientes idosos na maioria dos casos. A inserção do farmacêutico junto à equipe multiprofissional, apesar de ser uma aboradagem recente, tem demonstrado sua necessidade e os impactos positivos na redução de erros de medicação, na prevenção de reações adversas, nas orientações sobre medicamentos e nos custos do tratamento.

Palavras chave: Farmacêutico Clínico, Unidade de Terapia Intensiva, Ocorrências Iatrogênicas.

ABSTRACT

Nowadays, the Intensive-Care Units (ICUs) gather several kinds of health professionals, from different graduations and especifics knowledges, working together to assure the integrality of the pacient care. In this context, the character of Clinical pharmacist emerges to integrate the staff with his technical, cientific and humanistic knowledge, with the purpose to assure saving and the racional use of the medicines, without reducing the quality and efficiency of the treatment. The insertion of the Clinical pharmacist in the ICUs faces difficulties and the principal ones are: absence of courses for specific graduation and availability of professionals that can take over activities exclusively clinical, at the same time that the hospital has another Clinical pharmacists for the logistic and administrative activities. The pharmaceutical intervetion in the drug treatment is a integrating piece of the pharmacotherapy attendance process, assuring an appropriate treatment, effective and safe, with important consequences to the pacient recovery. The decentralization of the pharmacy with the instalation of the satellite pharmacys and the introduction of the statement on unit dose drug distribution consists of excelent strategies for otimization in the distribution of the drugs on several assistencial units. The Iatrogenic Occurrences with medication are considered responsible for the major parcel of difficulties in the ICU, bringing unexpected consequences, however avoidables. The literature attributes as contributive factors to this mistakes, in the human resource category, the ignorance about the drugs by the nurse staff, emphasizing the need of training and academic graduation as preventive measures. Some services already have the presence of the clinical pharmacist, which he acts in the control of the hospital infections, participating in the elaboration of the clinical protocols, prescription surveillance, drug padronization, in particular in the antimicrobials, in the dose adjustment in neonatal and pediatric ICUs, besides of the cardiology ICU, which has the presence of the elderly pacients, in most cases. The insertion of the pharmacist in a multi-professional team, despite of being a new approach, has shown its necessity and the positive impacts in the reduction of the medication errors, in the prevention of the adverse drug events, in guidance about drugs and in the costs of treatment.

Key words: Clinical pharmacist, Intensive Care Units, Iatrogenic Occurrences.

1. INTRODUÇÃO

Atualmente, as UTI comportam diversos profissionais de saúde, de diferentes formações e conhecimentos específicos, trabalhando em conjunto para garantir o cuidado integral dos pacientes (OLIVEIRA e col., 2010). Neste contexto, o farmacêutico clínico trabalha, promovendo a saúde, prevenindo e monitorando efeitos adversos, intervindo e contribuindo na prescrição de medicamentos para a obtenção de resultados clínicos positivos, melhorando a qualidade de vida dos pacientes sem, contudo, perder de vista a questão econômica relacionada à terapia.

A participação dos farmacêuticos em Unidades de Terapia Intensiva através da Assistência Farmacêutica está regulamentada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), por meio da Resolução (RDC) 7. Mas para mostrar sua necessidade e valor dentro das UTI, este profissional deverá romper as barreiras existentes entre a farmácia (ambiente físico) e o paciente.

Considerando a atual estrutura dos serviços de saúde e a situação econômica do país, a atuação do farmacêutico nas instituições hospitalares é de suma importância para garantir uma assistência farmacêutica adequada dentro de critérios técnico-científicos e utilizando mecanismos gerenciais para uma administração eficaz e racional (GOMES & REIS, 2003). 

A representação do profissional farmacêutico como último elo entre o medicamento e o paciente, relata a importância da sua atuação no âmbito hospitalar, especialmente nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI), em que devido às características clínicas do paciente, à complexidade dos medicamentos utilizados e à grande variação diária das prescrições, requerem uma avaliação farmacoterapêutica bastante minuciosa (BATISTA e col., 2010).

Farmacêuticos podem monitorar e estabelecer protocolos para administração de fármacos-alvo, como, por exemplo, os utilizados na sedação e analgesia, medicamentos de alto risco como a insulina e bloqueio neuromuscular, além de realizar acompanhamento farmacoterapêutico, reduzindo custos e melhorando desfechos. O ACCP (American College Pharmacy) e SCCM (Society of Critical Care Medicine) publicaram documento de consenso definindo os níveis de atenção e o papel do farmacêutico no cuidado de pacientes críticos, para padronização destas ações de acordo com o nível de atenção e definindo o farmacêutico como um profissional clínico, administrativo, educador e pesquisador (OLIVEIRA e col., 2010).

O farmacêutico clínico é fundamental no processo de minimização de erros ao paciente, uma vez que suas funções interferem tanto no aspecto administrativo quanto no clínico, sendo peça-chave na orientação da estruturação de processos que possam melhorar os serviços aos pacientes, como, por exemplo, a implantação de prescrição eletrônica e adequação dos sistemas de dispensação de medicamentos por características setoriais. No entanto, a política organizacional dos procedimentos para a prevenção dos erros no âmbito hospitalar deve envolver não apenas o serviço de farmácia, mas também outros serviços, como a medicina e a enfermagem (CAVALLINI & BISSON, 2010).

2. OBJETIVOS

Mostrar quem é o profissional Farmacêutico Clínico e qual a sua importância/contribuição na composição da equipe de cuidados intensivos em Unidades de Terapia Intensiva.

3. METODOLOGIA

Desenvolveu-se pesquisa de revisão bibliográfica fundamentada em dados gerados pela literatura científica, relacionando atividades do âmbito profissional farmacêutico e as Unidades de Terapia Intensiva.

Para isso utilizou-se revistas e livros das áreas de Farmácia Clínica e de Terapia Intensiva, bem como os periódicos indexados na base de dados LILACS – Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde, onde se captaram 17 artigos, que foram classificados e trabalhados de forma conjunta a partir de literatura pertinente. Empregaram-se para revisão os seguintes descritores: UTI; Farmacêuticos em UTI; Farmácia Clínica; Iatrogenia.

Para análise dos dados, os trabalhos foram lidos na íntegra e realizou-se uma síntese de cada um, registrando-se as informações mais relevantes.

4. DISCUSSÃO

4.1 HISTÓRICO

4.1.1 História da Farmacologia

A Farmacologia pode ser definida como o estudo dos efeitos das substâncias químicas sobre a função dos sistemas biológicos e surge como ciência em meados do século XIX, baseada mais em princípios de experimentação do que um dogma. Os primeiros acervos terapêuticos eram documentos que refletiam as tradições místicas, religiosas e médicas da sociedade antiga. Desde o início da civilização, remédios à base de ervas sempre foram utilizados, farmacopeias foram redigidas, mas nada que se utilizasse embasamento científico. 

Por volta do final do século XVII, a observação e a experimentação começaram a substituir a teorização em medicina, seguindo o exemplo das ciências físicas. Vários nomes foram importantes para o desenvolvimento desta ciência, mas Claude Bernard pode ser considerado o que mais contribuiu. No final do século XVIII e início do XIX, juntamente com François Magendie começou a desenvolver métodos de fisiologia e farmacologia experimentais em animais (VILAS BOAS et al, 2006).

4.1.2 História da UTI

A guerra da Criméia, em que Inglaterra, França e Turquia declararam guerra à Rússia, em 1854 deu origem à necessidade da monitorização constante de soldados feridos, em virtude dos grandes ferimentos por armamento pesado e moderno para aquela época. A jovem Florence Nightingale parte com 38 voluntárias para os Campos de Scurati para amenizar e tratar feridos de guerra. Em condições precárias a mortalidade entre os soldados hospitalizados atinge 40%. Sua técnica de monitorização e separação dos pacientes graves dos não-graves reduziu para 2% o número de óbitos, dando-se início ao conceito de Terapia Intensiva. Florence faleceu em 13 de agosto de 1910, deixando um legado para enfermagem e Terapia Intensiva Moderna (SOBRATI).

4.1.3 O surgimento da Farmácia Clínica a partir da evolução da Farmácia Hospitalar

No final da década de 1950, por iniciativa da Food and Drug Administration – FDA/USA e da American Medical Association – AMA, iniciou-se a conscientização dos farmacêuticos no sentido de controlar as reações adversas aos medicamentos. Verificou-se, então, que essa tarefa dependia do conhecimento de toda a medicação administrada aos pacientes, durante o período de internação, e que o sistema de dispensação de medicamentos empregado na época também colaborava para os erros na administração dos mesmos.

Nasciam, portanto, dois conceitos fundamentais para o início da prática da farmácia clínica: a elaboração do perfil farmacoterapêutico (registro sistemático de toda medicação administrada aos pacientes) e a criação do sistema de dispensação de medicamentos por doses unitárias (STORPIRTIS; RIBEIRO; MARCOLONGO, 2003). 

4.2 DEFINIÇÕES

4.2.1 A Farmácia Hospitalar

De acordo com a Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar – SBRAFH, a farmácia hospitalar, neste momento em que vivemos uma fase clínico-assistencial, pode ser definida como “Unidade clínica, administrativa e econômica, dirijida por profissional farmacêutico, ligada hierarquicamente, à direção do hospital e integrada funcionalmente com as demais unidades de assistência ao paciente”. (SBRAFH, 1997). 

4.2.2 Sistema de Distribuição de Medicamentos por Dose Unitária

A distribuição por dose unitária é a distribuição ordenada dos medicamentos com formas e dosagens prontas para serem administradas a um determinado paciente de acordo com a prescrição médica, num certo período de tempo (GARRISON; SMITH; BROWN, 1979). A implantação deste sistema levaria a menor frequência de erros, quando comparada com outras formas de distribuição.

4.2.3 Ocorrências iatrogênicas 

As ocorrências iatrogênicas, também denominadas iatrogenias, complicações, erros, ocorrências adversas, podem ser definidas como eventos indesejáveis, de natureza danosa ou prejudicial ao paciente, consequente ou não de falhas do profissional responsável pelo cuidado, e que compromete ou tem o potencial de comprometer a segurança do doente (BECKMANN e col., 1996).

Por tratar-se de pacientes de alto risco, em que pequenas falhas podem trazer conseqüências imprevisíveis, entre elas, a piora do quadro clínico e até mesmo a morte, na Unidade de Terapia Intensiva, qualquer ocorrência iatrogênica passa a ser não só indesejável, como extremamente prejudicial, fazendo emergir a questão da qualidade da assistência e o contexto na qual acontece, o que remete, inevitavelmente, para a avaliação dos serviços de saúde (PADILHA, 2001).

4.3 A FARMÁCIA NA UTI E SUAS ATIVIDADES

4.3.1 Administração

De acordo com Gonçalves (1998), os hospitais evoluíram desde pequenos grupos estruturados informalmente até as grandes e complexas organizações dos dias atuais:

As modificações observadas buscaram sempre a adequação dos esforços humanos, procurando atingir os objetivos definidos inicialmente. Para tanto o hospital deve ser administrado segundo critérios absolutamente adequados, essencialmente baseados nos pressupostos que caracterizam a moderna administração empresarial.

4.3.2 Adequação de custos – Farmacoeconomia

A Farmacoeconomia, recentemente difundida no Brasil, traz novas perspectivas para as decisões, nos setores público e privado. Sua utilidade no âmbito hospitalar é inquestionável, na seleção dos medicamentos mais custo-efetivos e na avaliação dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos, nos estudos de utilização de medicamentos e na revisão periódica dos tratamentos, de forma a considerar não apenas os resultados clínicos, mas, igualmente, o aspecto econômico das intervenções. Na farmácia hospitalar esse instrumental pode ser utilizado na elaboração dos guias farmacoterapêuticos, com o cálculo dos custos-dia de cada tratamento, nos protocolos terapêuticos e na gestão das compras e dos estoques de produtos farmacêuticos (BEVILÁCQUA, 2003). 

4.4 FERRAMENTAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO

4.4.1 Descentralização da farmácia - Farmácia Satélite

Podemos conceituar farmácia satélite como farmácia localizada no próprio setor da dispensação com a finalidade de estocar adequadamente materiais e medicamentos e de proporcionar assistência farmacêutica efetiva e direta (CAVALLINI & BISSON, 2010).

A Farmácia Satélite é uma necessidade em hospitais de grande porte, que exigem grandes deslocamentos para entregar os medicamentos nas unidades assistenciais, sendo uma estratégia adequada para otimizar o sistema de distribuição de medicamentos nesses hospitais (MOLERO & ACOSTA, 2002) . Entretanto, em hospitais de diferentes portes encontram-se unidades assistenciais que demandam disponibilidade imediata e diferenciada de medicamentos e materiais específicos, cujo fornecimento pelo sistema centralizado não é muito efetivo. Essas unidades geralmente são: centro cirúrgico, pronto atendimento e unidades de terapia intensiva.

4.4.2 A Implantação do Sistema de Distribuição de medicamentos por dose unitária

As vantagens deste tipo de distribuição são:

· A dose do medicamento é embalada, identificada e distribuída pronta, para ser administrada ao paciente, de acordo com a prescrição médica, não requerendo a manipulação prévia por parte da enfermagem;

· Na unidade assistencial estarão estocados somente os medicamentos que atendem os casos de emergência, anti-sépticos e as doses necessárias para suprir as próximas 24 horas de tratamento do paciente;

· A dupla conferência do medicamento pela farmácia e equipe de enfermagem através, respectivamente, do registro farmacoterapêutico do paciente e do registro de administração do medicamento (LIMA; SILVA; REIS, 2003). 

Qualquer que seja o sistema adotado, o importante é direcionar esforços para uma maior integração com os profissionais dos Serviços de Farmácia dos hospitais, visando compartilhar a responsabilidade com a equipe de enfermagem, no que diz respeito a solicitação e distribuição de medicamentos, com vistas a uma assistência mais segura ao paciente (CAMARGO; PADILHA ,2003).

Foto: Exemplos de unitarização de doses em diferentes formas farmacêuticas. Foto tirada na Feira Hospitalar 2011.



4.4.3 Principais grupos de medicamentos utilizados na TI (Emergência e UTI)

Medicamentos mais comuns:

· Antibióticos (mais freqüentes em UTI cirúrgicas)

· Anti-hipertensivos (mais freqüente em UTI clínicas)

· Sedativos/Analgésicos (grupo mais utilizado)

· Broncodilatadores

· Drogas vasoativas

· Anticoagulantes

· Bloqueadores neuromusculares

4.5 ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO EM UTI

4.5.1 Inserção do profissional farmacêutico na Unidade de Terapia Intensiva

A presença do profissional farmacêutico atualizado, qualificado e treinado nas UTI, justifica-se segundo Araújo & Almeida (2008):

Dada a complexidade dos casos no ambiente da terapia intensiva, como pacientes nefropatas, transplantados, idosos e etc. e à necessidade de cuidados com monitoramento intensivos, observam-se prescrições extensas de medicamentos, combinação de drogas potencialmente inapropriadas e tempo prolongado de hospitalização que representam maior possibilidade de desenvolvimento de eventos adversos.

Ainda de acordo com estas autoras, muito se discute sobre a evolução e o impacto da atuação do farmacêutico na UTI, que participa da visita multidisciplinar à beira do leito, do processo de padronização e dispensação de medicamentos, colabora com o médico para uma prescrição segura e racional, provê informações técnicas à equipe e participa ativamente em protocolos clínicos, reduzindo custos associados à terapia medicamentosa.

4.5.2 Dificuldades para inserção do farmacêutico clínico na UTI

As principais dificuldades encontradas são: a inexistência de cursos para a formação específica e a disponibilidade do farmacêutico para a atuação específica na atividade clínica, na UTI, assumindo atividades exclusivamente clínicas, ao mesmo tempo que a farmácia disponha de outros farmacêuticos para as atividades de administração e logística (Pharmacia Brasileira set/out 2010).

4.5.3 Intervenção Farmacêutica na Terapia Medicamentosa 

De acordo com o Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica: Proposta (2002), a intervenção farmacêutica consiste 

no ato planejado, documentado e realizado junto ao usuário e profissionais de saúde, que visa resolver ou prevenir problemas que interferem ou podem interferir na farmacoterapia, sendo parte integrante do processo de acompanhamento/seguimento farmacoterapêutico

Esse monitoramento das prescrições farmacológicas pelo Farmacêutico Clínico, em especial de antimicrobianos, assegurando um tratamento adequado, efetivo e seguro, além de manter uma conduta para a prevenção, resultará não apenas na otimização da terapia, mas também em uma diminuição de custos para a instituição.

4.5.4 Controle das iatrogenias com medicação em UTI

Em estudo realizado por Padilha (2006), as principais causas de iatrogenias referentes à medicação encontradas foram: o não cumprimento do horário de administração dos medicamentos, erro de dosagem, medicamento errado, via de administração errada, administração de medicamento para paciente trocado e infusão de soluções incompatíveis. 

A literatura atribui como um dos fatores contribuintes para a presença dos erros de medicação em UTI, na categoria recursos humanos, o desconhecimento sobre as drogas por parte da equipe de enfermagem, ao mesmo tempo em que sugere como medida de prevenção a adoção de treinamentos e reciclagens, bem como a valorização desta atividade por parte destes profissionais, enfatizando a necessidade de formação acadêmica adequada para realizá-la com segurança (CAMARGO; PADILHA, 2003).

4.5.5 Controle das Infecções Hospitalares

A atuação do farmacêutico reduz a mortalidade, duração de internação e alta da UTI em pacientes com infecções hospitalares, comunitárias e sepse, além de não aumentar os custos com tratamentos e exames laboratoriais, de acordo com estudo publicado por MacLaren e col. (2008), além de ter impacto positivo sobre infecções por meio da seleção adequada de antibióticos e monitoramento da toxicidade dos mesmos. Podem minimizar o recebimento de fluidos em pacientes com restrição hídrica, ajustando a diluição de medicamentos (OLIVEIRA e col., 2010).

4.5.6 Sepse

A atuação do farmacêutico junto à equipe da terapia intensiva reflete também a busca da recuperação do paciente com sepse. A primeira publicação do Surviving Sepse Campaign, em 2004, pontuava a atuação do farmacêutico, recomendando sua intervenção na terapia antimicrobiana para que os agentes utilizados sejam entregues pela farmácia imediatamente à sua prescrição, pois na ocorrência de choque séptico cada hora de atraso na administração destes antimicrobianos está associada a um aumento mensurável de mortalidade. Informações sobre a concentração sérica dos agentes que podem ser fornecidas pelo farmacêutico são importantes para maximizar seus efeitos e minimizar a toxicidade (ARAÚJO, 2011).

4.5.7 Neonatologia 

Os recém-nascidos em cuidados intensivos estão sujeitos a inúmeras intervenções potencialmente dolorosas e a dificuldade para reconhecer e avaliar a dor neste período constitui um dos maiores obstáculos ao seu tratamento adequado nas UTIs. A falta de conhecimento a respeito das escalas utilizadas para avaliar a dor, das indicações para uso de analgésicos e de seus efeitos colaterais nessa faixa etária contribui para essa realidade (PRESTES e col., 2005).

Em estudo realizado em UTI neonatal, Lerner e col. (2008), classificaram os erros medicamentosos em: velocidade incorreta de fluidos intravenosos/infusão de drogas – mais ou menos 10% da taxa prescrita, omissão de dosagem, horário incorreto, dosagem inadequada, medicamento não autorizado (medicamentos não permitidos para uso em RN) e administração incorreta do medicamento. Após análise de 73 prontuários médicos observaram que o erro mais freqüente esteve relacionado com infusão incorreta de medicamentos e fluidos intravenosos, em função de ajuste equivocado de bombas de infusão.

4.5.8 UTI pediátrica

Em estudo realizado na UTI pediátrica do Hospital das Clínicas de Porto Alegre, Carvalho e col. (2003), encontraram alta prevalência de prescrições com medicamentos não apropriados para crianças, confirmando o uso inadequado e inadvertido de medicamentos não testados ou de apresentações não padronizadas para crianças em UTIP. Segundo o autor:

Possivelmente, devido a razões de mercado ou políticas de investimentos e, talvez, por não ter sido suficientemente pressionada ou estimulada pelos órgãos oficiais de controle de medicamentos, nas últimas décadas, a indústria farmacêutica não tem estado comprometida na realização de estudos clínicos de eficácia e segurança com grupos pediátricos, para a obtenção de licenciamento de seus produtos para esse seguimento.

4.5.9 Pacientes idosos

O processo de transição etária desencadeado no Brasil entre os anos 40 e 60, com um declínio significativo na mortalidade e a redução na fecundidade, iniciou um rápido processo de desestabilização da estrutura etária brasileira (CARVALHO & WONG, 2008). Esta transição ao mesmo tempo que gera oportunidades, também gera desafios ao país e a necessidade de definir e implementar políticas públicas, bens e serviços para esta grande parcela da população e um bom exemplo é a busca da melhoria das UTI.

CONCLUSÃO

Apesar de ser uma abordagem recente, a inserção do profissional farmacêutico nas UTI junto à equipe multiprofissional nas UTI, tem demonstrado impacto positivo no que se refere a prevenção das iatrogenias medicamentosas, redução de custos com tratamento e nas orientações sobre as medicações, seja para os pacientes ou para os demais membros da equipe.

O objetivo principal do trabalho foi mostrar quem é o profissional farmacêutico e quais as suas atribuições dentro da UTI e do hospital como um todo. Foi possível verificar que se trata de um profissional com conhecimentos técnicos, científicos e humanísticos, sempre atualizado com a realidade e necessidades em saúde e que pode gerar impactos na qualidade do atendimento ao paciente crítico. 

A revisão bibliográfica foi fundamentada em dados gerados pela literatura científica e os livros e revistas da área das ciências farmacêuticas tiveram uma maior contribuição a respeito do tema, uma vez que, os artigos, em sua maioria, tratavam tanto a administração dos medicamentos como as iatrogenias decorrentes dos erros de medicação como responsabilidades da equipe de enfermagem, ao passo que, sempre referiam à necessidade de um aprofundamento nos conhecimentos farmacológicos por parte desta equipe, enquanto a ausência de um farmacologista dentro das Unidades nunca era questionada. O que pôde de início ser considerada uma dificuldade para a elaboração desta pesquisa, chama a atenção para uma demanda e necessidade de estudos mais aprofundados sobre este tema.

A atuação do farmacêutico se faz presente em muitas situações dentro do ambiente hospitalar, onde este participa diretamente do ciclo da Assistência Farmacêutica, o qual se inicia com a seleção e padronização dos medicamentos e termina na dispensação, que pode ser resumidamente descrita como o ato de entrega da medicação, acrescida de informações sobre seu uso, estocagem e interações, possibilitando maior adesão e segurança ao tratamento e garantindo o uso racional destes.

Os exemplos observados na literatura demonstram o amadurecimento e a busca de qualificação dos farmacêuticos, o qual deixa as funções logísticas e administrativas da farmácia hospitalar e passa a realizar o acompanhamento ou seguimento farmacoterapêutico dos pacientes em seus leitos, tornando-se Farmacêutico Clínico, comprometido com os resultados do tratamento medicamentoso. A atual conjuntura das UTI que buscam a qualidade total nos seus processos vai de encontro ao surgimento deste “novo”, porém “antigo” aliado da saúde da população dentro das UTI, onde colocará em prática os seus conhecimentos de farmacocinética, farmacodinâmica, farmacotécnica, farmacoeconomia, farmacoepidemiologia, farmacovigilância, nutrição parenteral, controle de infecções, análises clínicas e a os demais ramos que compõem as Ciências Farmacêuticas.

Esta pesquisa deixa além da recomendação de outros estudos que possam continuar abordando este tema, a sugestão e proposta da criação de cursos voltados a formação do profissional Farmacêutico especialista em UTI, ou seja, o Farmacêutico Intensivista, propriamente dito, onde possam ser desenvolvidas habilidades referentes ao conhecimento das características da UTI; identificação das necessidades do paciente e da equipe de cuidado em relação à farmacoterapia; identificação de riscos e priorizar as intervenções; acompanhamento da evolução clínica e elaboração de protocolos para situações específicas.

REFERÊNCIAS

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