sábado, 25 de janeiro de 2014

HISTÓRIA DA FARMÁCIA BRASILEIRA

HISTÓRIA DA FARMÁCIA BRASILEIRA

 




POR : SAFIA NASER, PHARMACIST AT PHARMACIST ON MAR 02, 2012

Os primeiros povoadores, náufragos, degredados, aventureiros e colonos aqui deixados por Martim Afonso, tiveram de valer-se de recursos da natureza para combater as doenças, curar ferimentos e neutralizar picadas de insetos. 

Para combater a agressividade do ambiente, e a hostilidade de algumas tribos indígenas os primeiros europeus tiveram de contornar a adversidade com amabilidade, e com isso foram aprendendo com os pajés a preparar os remédios da terra para tratar seus próprios males.

Remédio da "civilização" só aparecia quando expedições portuguesas, francesas ou espanholas apareciam com suas esquadras, onde sempre havia um cirurgião barbeiro ou algum tripulante com uma botica portátil cheia de drogas e medicamentos.

As coisas ficam assim até que a coroa portuguesa resolveu instituir no Brasil o governo geral, e o primeiro a ser nomeado foi Thomé de Souza, que veio para a colônia com uma armada de três naus, duas caravelas e um bergantim, trazendo a autoridade, funcionários civis e militares, tropa de linha, diversos oficiais, ao todo aproximadamente mil pessoas que se instalaram na Bahia.

Vieram também nesta armada seis jesuítas, quatro padres e dois irmãos, chefiados por Manuel da Nóbrega. O corpo sanitário da grande armada compunha-se de apenas um boticário, Diogo de Castro, com função oficial e com salário. 

Não havia nesta armada nenhum físico, denominação de médico na época. O físico-mor, só viria a ser instituído no segundo governo de Duarte da Costa. Dentre os irmãos destinados ao sul do país, estava a criatura humilde e doentia de nome José de Anchieta. 

Os jesuítas eram mais práticos e previdentes que os donatários e, até do que os próprios governadores-gerais, e trataram logo de instituir enfermarias e boticas em seus colégios, e colocando um irmão para cuidar dos doentes e outro para preparar remédios.

Em São Paulo o irmão que preparava os remédios era José de Anchieta, por isso podemos considerá-lo o primeiro boticário de Piratininga. E o padre relata em suas cartas aos jesuítas: "Em nós outros tem médicos, boticários ou enfermeiros... Nossa casa é botica de todos; poucos momentos estão quietos a campainha da portaria...""... todavia fiz-lhe eu os remédios que pude...

"A princípio os medicamentos vinham do reino já preparados. 

Mas a pirataria do século XVI e as dificuldades da navegação impediam com frequência a vinda de navios de Portugal, e era preciso reservar grandes provisões como acontecia com São Vicente e São Paulo. 

Por estas razões os jesuítas terminaram sendo os primeiros boticários da nova terra, e nos seus colégios as primeiras boticas onde o povo encontrava drogas e medicamentos vindos da metrópole bem como, remédios preparados com plantas medicinais nativas através da terapêutica dos pajés.

Importantes boticas sob a direção dos jesuítas tiveram a Bahia, Olinda, Recife, Maranhão, Rio de Janeiro e São Paulo. “Por muito tempo, diz o padre Serafim Leite, as farmácias da companhia foram às únicas existentes em algumas cidades”. 

E quando se estabeleceram outras, as dos padres, pela sua notável experiência e longa tradição, mantiveram a primazia. 

“O colégio do Maranhão possuía uma farmácia flutuante, a Botica do Mar, bem provida, que abastecia de medicamentos os lugares da costa, desde o Maranhão até Belém do Pará “.

A botica mais importante dos jesuítas foi a da Bahia, sua importância a tornou um centro distribuidor de medicamentos para as demais boticas dos vários colégios de norte a sul do país. 

Para isso, e como a Bahia mantivesse maiores contatos com a metrópole, os padres conservavam a botica bem sortida e aparelhada para o preparo de medicamentos, iniciando-se nela, inclusive, o aproveitamento das matérias primas indígena. 

Os jesuítas possuíam um receituário particular, onde se encontravam não só as fórmulas dos medicamentos como seus processos de preparação. 

Havia também método de obtenção de certos produtos químicos, como a pedra infernal (nitrato de prata). O medicamento extraordinário, no entanto, a penicilina da época, era a Tríaga Brasílica, que se manipulava mediante fórmula secreta. 

Essa tríaga, se usava contra a mordedura de animais peçonhentos, em várias doenças febris, e principalmente como antídoto e contraveneno ("exceto os corrosivos") gozava de grande fama e era considerada tão boa quanto a de Veneza, pois agia pronta e rapidamente com a vantagem de, em sua composição, entrarem várias drogas nacionais de comprovada eficiência.

Quando o colégio dos jesuítas da Bahia foi saqueado e sequestrado em julho de 1760, ordem dada pelo Marques de Pombal, o desembargador incumbido da ação judicial comunicou a seus superiores, "que tendo ele notícia da existência na Botica do Colégio de algumas receitas particulares, entre as quais a do antídoto ou "Tríaga Brazílica", havia feito as necessárias diligências para dela se apossar". Mas a receita não apareceu na Botica, nem em lugar algum na Bahia. 

Somente mais tarde foi ela encontrada na Coleção de Várias Receitas, "e segredos particulares das principais boticas da nossa companhia de Portugal, da Índia, de Macau e do Brasil, compostas e experimentadas pelos melhores médicos, e boticários mais célebres. Aumentada com alguns índices, e noticias curiosas e necessárias para a boa direção, e acerto contra as enfermidades"., Roma 1766.

Outra botica que se assemelhava a dos padres era a da Misericórdia. De caráter semipúblico, tanto servia a seu próprio hospital como a cidade. Frei Vicente de Salvador refere-se também a existência de uma grande caixa de botica que os holandeses possuíam num forte baiano, e eram vinte e duas boticas (caixas) da armada lusa espanhola. 

Já na primeira década do século passado, as boticas da capital baiana, segundo testemunho de Spix e Martius, estavam "providas de remédios específicos ingleses milagrosos".

Por estas razões os jesuítas terminaram sendo os primeiros boticários da nova terra, e nos seus colégios as primeiras boticas onde o povo encontrava drogas e medicamentos vindos da metrópole bem como, remédios preparados com plantas medicinais nativas através  terapêutica dos pajés.

Para isso, e como a Bahia mantivesse maiores contatos com a metrópole, os padres conservavam a botica bem sortida e aparelhada para o preparo de medicamentos, iniciando-se nela, inclusive, o aproveitamento das matérias primas indígena.

Os jesuítas possuíam um receituário particular, onde se encontravam não só as fórmulas dos medicamentos como seus processos de preparação. Havia também método de obtenção de certos produtos químicos, como a pedra infernal (nitrato de prata).

O medicamento extraordinário, no entanto, a penicilina da época, era a Tríaga Brasílica, que se manipulava mediante fórmula secreta.

Essa tríaga, se usava contra a mordedura de animais peçonhentos, em várias doenças febris, e principalmente como antídoto e contraveneno ("exceto os corrosivos") gozava de grande fama e era considerada tão boa quanto a de Veneza, pois agia pronta e rapidamente com a vantagem de, em sua composição, entrarem várias drogas nacionais de comprovada eficiência.

De caráter semipúblico, tanto servia a seu próprio hospital como a cidade. Frei Vicente de Salvador refere-se também a existência de uma grande caixa de botica que os holandeses possuíam num forte baiano, e eram vinte e duas boticas (caixas) da armada luso espanhola.Já na primeira década do século passado, as boticas da capital baiana, segundo testemunho de Spix e Martius, estavam "providas copiosamente de específicos ingleses e remédios milagrosos".

AS BOTICAS DO BRASIL

As boticas só foram autorizados, como comércio, em 1640, a sangria, também foi legalmente autorizada naquele mesmo ano e, resultou em competição entre os barbeiros e os escravos sangradores. A partir deste ano as boticas se multiplicaram, de norte a sul, dirigidas por boticários aprovados em Coimbra pelo físico-mor, ou por seu delegado comissário na capital do Brasil, Salvador. 

Estes boticários, que obtinham com a máxima facilidade a sua "carta de aprovação" eram profissionais empíricos, as vezes analfabetos, possuindo apenas conhecimento de medicamentos corriqueiros. 

Por causa de toda essa "facilidade", muitas vezes lavadores de vidros ou simples ajudantes de botica, requeriam exame perante o físico-mor ou seu delegado e, uma vez aprovados, o que geralmente acontecia, arvoravam-se em boticários, estabelecendo-se por conta própria ou associando-se a um capitalista ou comerciante, normalmente do ramo de secos e molhados, que alimentava a expectativa dos bons lucros no novo negócio. 

Em todas as cidades do Brasil, desde os primeiros tempos da colonização, foi hábito dos comerciantes de secos e molhados, negociarem com drogas e medicamentos, não só para uso humano como para tratamento dos animais domésticos, aos cuidados do alveitares (veterinários). Raras eram as boticas legalmente estabelecidas. 

O comércio das drogas e medicamentos era privativo dos boticários, segundo o que estava nas "Ordenações", conjunto de leis portuguesas que regeram o Brasil durante todo o período colonial, reformada por D. Manuel e em vigor desde o princípio do século XVI, bem como por leis e decretos complementares. Foi com base nesta legislação que o físico-mor do reino, por intermédio de seu comissário de São Paulo, ordenou o cumprimento integral do regimento baixado em maio de 1744. 

Com isto intensificou-se a fiscalização do exercício dessa profissão, pois o regimento proibia terminantemente o comércio ilegal das drogas e medicamentos, estabelecendo pesadas multas e sequestro dos respectivos estoques. 

Houve, busca e apreensões das mercadorias proibidas, que foram depositadas nas boticas locais. Foi um "Deus nos acuda". O Regimento foi feito a partir de uma ordem do Conselho Ultramarino de dois anos antes. 

A ordem fora dada ao Dr. Cypriano de Pinna Pestana, físico-mor do reino, para que não se desse comissão a pessoa alguma, que no Brasil servisse por ele, e esta comissão só poderia ser dada a um médico formado pela Universidade de Coimbra, e que mesmo físico-mor deveria fazer um novo regimento da forma em que os seus comissários deveriam proceder nas suas comissões e qual o salário que deveriam receber e com atenção as distâncias, que ficam as terras litorâneas. 

Ficando advertido que tanto os ganhos dos seus comissários como os preços dos medicamentos nunca deveriam exceder o dobro, dos preços praticados no reino e que feito tal regimento deveria ser remetido ao Conselho".Quanto ao exame prestado pelos candidatos a boticários, bem como a inutilização das drogas eventualmente deterioradas, desde a sua chegada aos portos, e a fiscalização das boticas, tudo se faria de acordo com o regimento: legalização do profissional responsável;existência de balança; pesos e medidas; estado de conservação das drogas vegetais,principalmente as importadas; medicamentos galênicos; produtos químicos; vasilhames e ocasionalmente, a existência de alguns livros. 

As inspeções das boticas seriam rigorosas e realizadas a cada três anos. Este regimento foi considerado modelar para a sua época.Em completo atraso e carência de preparo, os boticários de Portugal e das colônias portuguesas, tinham como guia a obsoleta Farmacopéia Ulissiponense Galênica e Química de Joan Vigier, data de 1716, e em 1735 aparecia a Farmacopéia Tubalense Química Galênica, teórica e prática, de Manoel Rodrigues Coelho, boticário da corte, que visava ter seu trabalho autorizado pelo governo, o que não conseguiu.

Em 1772 apareceu a obra de Frei João de Jesus Maria, monge beneditino e boticário do convento e, finalmente, publicada por ordem de D. Maria I. Em 7 de abril de 1794 foi mandada adotar a Farmacopéia Geral para o Reino de Portugal e Domínios, de autoria de Francisco Tavares, professor da Universidade de Coimbra.

A cidade de São Paulo em 1765, tinha três boticários, Francisco Coelho Aires,estabelecimento e moradia na rua Direita, Sebastião Teixeira de Miranda na atual rua Alvares Penteado e José Antônio de Lacerda na atual Praça da Sé. A Real Botica de São Paulo, estava instalada onde hoje está o Vale do Anhangabaú, mais precisamente, onde hoje está o prédio central dos Correios e Telégrafos. O prédio parainstalar esta primeira farmácia oficial da cidade foi construída em 1796 e demolida em 1916.No tempo da Real Botica os remédios eram, na sua grande maioria, plantas medicinais,porém desde de 1730 o brasileiro usava o mercúrio e o arsênico importados da Europa.

O ópio, a escamonéia, a rosa, o sene, o manacá e a ipeca já faziam parte dos remédios necessários para funcionamento de uma botica. Pomadas e linimentos tinham grande consumo, aliás o produto mais consumido era a pomada alvíssima, além do bálsamo católico, de Copaíba, e a Água Vienense, que só entrou em desuso no começo deste século.As Boticas do Rio de Janeiro, no entanto, eram adornadas "com estilo muito mais faustoso que o comum das casas de comércio, isto é, de muito bom gosto. 

Em vez debalcão, como se costumava ter, tinham bem no meio uma espécie de altar, com a frente ornamentada com pinturas e dourados; o motivo mais comum na pintura era alguma paisagem, um naufrágio ou um simples ramalhete de flores. Acima, no altar, a balança, ospesos, dois ou três livros velhos, oráculos, sem dúvida, da arte de curar".

Os utensílios de laboratório, sempre despertou no cliente um olhar respeitador bem como muita curiosidade. Talvez por suas formas singulares, tão diferente da maioria dosobjetos corriqueiros, talvez por indicarem ao leigo de alguma forma, as transformações quenestes locais se faziam. Na porta dos laboratórios o aviso "Proibida a Entrada", só entravamo boticário, vestido com sua bata branca, e os auxiliares , geralmente moços me manga decamisa. O freguês ficava a espera da receita, que levava no mínimo uma hora para ser aviada além da grade de madeira ou de ferro.

Os Estudos de Farmácia

Quando a família real portuguesa ruma para a colônia Brasil, o futuro país não tinhaconseguido fazer chegar as suas terras qualquer dos avanços científicos que a Alemanha,França e Itália desfrutavam.O Brasil era a colônia portuguesa esquecida pela rainha D. Maria I, A Louca.Não haviam faculdades, as ciências de uma maneira geral eram privilegio dos quepodiam ir estudar em Lisboa, Paris ou Londres.Foi depois da vinda da família real, (1803) que o país, ainda colônia, adquiriu o direito deacompanhar os movimentos culturais e científicos que aconteciam no velho continente a maisde um século.

O primeiro passo largo rumo a modernidade foi encabeçado pelo príncipe regente D.João VI, que admirava os estudos de história natural, bem como o trabalho dos naturalistas.Em 18 de fevereiro de 1808, instituiu os estudos médicos no Hospital Militar da Bahia,por sugestão do cirurgião-mor do reino, Dr. José Correia Pincanço, futuro Barão de Goiana,com ensino de anatomia e cirurgia, porém o ensino de farmácia só se iniciou em 1824. 

A intenção de D. João VI era formar médicos e cirurgiões para o exército e marinha, ondeestava a elite econômica da época.No Rio de Janeiro instituiu o curso de medicina em 1809. Este curso era composto dascadeiras de Medicina, Química, Matéria Médica e Farmácia. 

O primeiro livro desta faculdade foi escrito por José Maria Bontempo, primeiro professor de farmácia do Brasil, e chamava-se "Compêndios de Matéria Médica" e foi publicado em 1814.

Em 1818 o farmacêutico português instalado no Rio de Janeiro, José Caetano de Barros abriu o ensino gratuito a médicos, boticários e estudantes no laboratório de sua farmácia,sendo que as aulas de botânica eram dadas pelo carmelita pernambucano Frei Leandro do Sacramento, diretor do Jardim Botânico, e professor dessa disciplina na então Escola Médico Cirúrgica. 

As aulas de Frei Sacramento eram ministradas no Passeio Público daquela cidade.Dentre os discípulos de José Caetano de Barros, destacava-se Ezequiel Corrêa dosSantos, que veio a ser um dos pioneiros da farmácia no Brasil. Seu filho, tambémfarmacêutico, tornou-se catedrático de farmácia na Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro entre 1859 e 1883.

Em 3 de outubro de 1832, foi criada a Faculdade de Medicina, com isso regulou-se o ensino de farmácia. Um decreto imperial sancionado em 8 de maio de 1835, transformou a Sociedade de Medicina em Academia Imperial, e nela ficou instituído a seção de farmácia, o que elevou a classe farmacêutica a hierarquia científica, colocando-a em igualdade aos demais ramos das ciências médicas.

A consolidação do ensino de farmácia, no entanto, só aconteceu em 1925, quando o curso passa a ser Faculdade de Farmácia, filiada, como as outras, a Universidade do Rio de Janeiro.A assembléia legislativa de Minas Gerais, decretou a lei nº 140, sancionada peloentão conselheiro Bernardo Jacinto da Veiga, em 4 de abril de 1839, criando duas Escolas deFarmácia, uma em Ouro Preto e outra em São João Del Rei, destinada ao ensino de farmáciae da matéria médica brasileira.

A cidade do Rio de Janeiro abriu curso de agricultura em 1814, e o laboratório de químicachegou a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1818.Os cursos superiores nasceram sob a imposição de necessidades práticas imediatas,por isso não acompanharam, no decorrer de nossa história, as exigências da sociedade brasileira. Em virtude do imediatismo, a pesquisa científica foi totalmente negligenciada durante todo o período do império, vindo a desenvolver-se timidamente no começo do nosso século. 

Assim, não é de se estranhar que em 10 anos (1855 -1864) as escolas de medicina das duas províncias, Bahia e Rio de Janeiro, tivessem apenas 2 7 estudantes de medicina, por ano, e no curso de farmácia 5, enquanto o curso de direito tinha 80 alunos.

A Escola de Farmácia de Porto Alegre surgiu em 1896 e a de São Paulo em 1898. Sabem-se  que a idéia da instituição desta última constituísse, desde algum tempo, cogitação de ilustres profissionais que integravam a Sociedade Farmacêutica, coube, sem dúvida, ao Dr.Braulio Gomes, médico de renome e vasto currículo de relações sociais, a vitória na iniciativaque culminou na fundação da Escola de Farmácia de São Paulo em 12 de outubro de 1898.Em 1822, São Paulo, não possuía nenhuma faculdade, mas tinha 7 médicos e cirurgiõese continuava tendo 3 boticários, sendo um deles Ereopagita da Mota, que tinha farmácia naentão rua do Rosário atual 15 de novembro, no coração da cidade. Já o Rio de Janeiro em1843 tinha 78 farmácias, e em 1893, 210 farmácias e 34 drogarias.

De Boticário a Farmacêutico

A pesar das diversas instituições de ensino de farmácia pelo país no século passado, a passagem do comércio de botica para farmácia, não foi nada fácil. Afinal o hábito, na culturapopular, dificulta em muito as mudanças, por mais necessárias que elas sejam.Assim, até a própria lei que regulamentava o efetivo exercício da profissão persistia emchamar os farmacêuticos de boticários. 

O Regimento da Junta de Higiene Pública, aprovado pelo decreto imperial número 829, de 29 de setembro de 1851, documento que regulamentava a profissão, fazia menção ao técnico da preparação dos medicamentosatravés da palavra "boticário"., e não se pense que a expressão dissesse respeito a profissionais sem diploma, pois o artigo 28 do referido regimento é claro: " os médicos,cirurgiões, boticários, dentistas e parteiras apresentarão seus diplomas..."O hábito continuou até surgir o Decreto 2055, de dezembro de 1857, onde ficouestabelecido as condições para que os farmacêuticos, não habilitados, tivessem licença paracontinuar a ter suas boticas. 

Uma ironia bem própria da cultura brasileira onde farmacêuticose boticários, habilitados ou não, tinham pouca diferença para a média da população bem como para os legisladores, normalmente leigos em questões de farmácia. O boticário dará definitivamente espaço ao farmacêutico depois de 1886. Isto no entantonão deve significar que o país e suas faculdades de farmácia não produziram cientistas denível nacional e internacional é o caso de Luís Antônio da Costa Matos, que obteve um princípio antifebril da amêndoa de cajú; Joaquim de Almeida Pinto, pernambucano, que estudou espécies da nossa flora e organizou um dicionário de botânica; Antônio Gonçalvesde Araujo Penna, paulista que se dedicou a farmácia homeopática, dando-lhe grande impulso e popularidade. 

Ezequiel Correia dos Santos, fluminense, dedicou-se ao estudo das plantas medicinais brasileiras, procurando isolar os princípios ativos e obtendo em 1838, o pereirinado Pau Pereira, com a colaboração dos farmacêuticos Soullié e Dourado. Joaquim Correia de Mello, paulista, exerceu a profissão em Campinas, onde se popularizou pelo apelido de "Quinzinho da botica", sua vocação era a botânica, estudioso e modesto, aplicou-se profundamente ao estudo da nossa flora, redigindo comunicações ememórias que foram publicadas nos anais da famosa "Linnean Society", de Londres, da qual era o único sócio correspondente sul americano. Pedro Baptista de Andrade, mineiro, o "poeta da química", químico industrial e professor de farmácia; Christovão Buarque de Hollanda, químico do Laboratório Nacional de Análises e diretor da Farmácia do Estado de São Paulo.

· 1. História da Farmácia no Brasil Assistência Farmacêutica Safia Naser

· 2. Assistência Farmacêutica Grupo de atividades relacionadas com os medicamentos, que têm por finalidade, apoiar as ações de saúde. Envolve o abastecimento de medicamentos em cada uma de suas etapas constitutivas, a produção, conservação, controle de qualidade, distribuição, armazenamento, dispensação, a segurança, o acompanhamento da utilização, entre outras. Inclui, também, a obtenção e difusão de informações sobre medicamentos e a educação permanente dos profissionais de saúde, do paciente e da comunidade para assegurar o uso racional de medicamentos. (PNM, 1998)

· 3. História da Farmácia no Brasil Origem dos termos Físicos, unguentários e mascates: eram profissionais que comercializavam preparações com fins curativos. Sua atividade era, em geral, ambulante. Botica: caixa de madeira e folha de flandres que continha as drogas medicinais para comércio ambulante. Mais tarde designou o estabelecimento comercial de ervas medicinais, unguentos, xaropes, produtos para cura em geral.

· 4. Histórico Desde o descobrimento do Brasil usou-se o termo Botica e Boticário. O termo farmácia e farmacêutico surgiu no início do Século XIX, para denominar o local de fornecimento e o profissional do medicamento. Palavra derivada do grego Pharmakon , palavra que significava remédio, veneno e amuleto mágico.

· 5. Histórico Desde a pré-história os povos tinham conhecimentos de plantas medicinais e sistemas terapêuticos que combinavam elementos empíricos, racionais, religiosos e mágicos. Existem documentos da Mesopotâmia (4.000 AC), do Egito (4.300 AC), dos hebreus, chineses, indianos (3.250 AC), gregos, etc que registram a utilização de preparados a base de plantas, substâncias de origem mineral e animal para cura e alívio dos sintomas de doenças.

· 6. Histórico Pouco antes do descobrimento do Brasil, em Portugal, foi editada a “Carta dos Privilégios” que estabelece que os boticários têm os mesmos direitos, graças, isenções e privilégios dados aos “ doutores phisicos”. Os boticários eram considerados “ homens de ciência ” e não apenas comerciantes. 1521 – necessidade de aprovação, concessão de licença para instalar boticas, que eram inspecionadas, para fixação de preços e obtenção de licença para fabricação de remédios.

· 7. Histórico No Brasil, para os indígenas, a assistência aos doentes era reservada ao intermediário entre homens e deuses, o que lhe concedia o poder e o dom de curar (Pagés e feiticeiros). Devia ser capaz de usar plantas medicinais para curar, exorcisar os maus espíritos, tirar encantamentos, fazer poções mágicas e oferendas, e confeccionar amuletos.

· 8. Histórico 1548 – Tomé de Souza chega ao Brasil trazendo o Boticário Diego de Castro, líder do primeiro corpo sanitário da Colônia. 1553 – devido aos saques piratas aos navios, começa a produção de remédios elos Jesuítas nos colégios de Piratininga e Salvador. José de Anchieta é considerado o primeiro boticário de Piratininga(SP) que preparava substâncias medicinais e foi o primeiro a descrever espécies vegetais nativas.

· 9. Histórico 1810 – regulamentação do exercício da medicina e da farmácia. As boticas eram inspecionadas e recebiam certidões conforme a exatidão dos pesos, asseio e qualidade dos produtos. As fórmulas eram secretas. 1832 – criação dos primeiros cursos de Farmácia, vinculados às faculdades de Medicina, em Salvador e Rio de Janeiro. 1839 – criação do primeiro curso autônomo de Farmácia em Vila Rica, hoje Ouro Preto.

· 10. Histórico Início do Séc. XIX - começa a utilização da denominação ‘Farmácia e Farmacêutico’ Os boticários continuam a existir e a exercer o ofício sem cursar farmácia. Recebiam o alvará pela reconhecida “arte e competência”. 1851 - decreto imperial que cria a Junta de Saúde Pública e a exigência de diploma para dirigir farmácia e adoção da Farmacopéia Francesa. 1926 – publicação da I Farmacopéia Brasileira por Rodolfo Albino.

· 11. Histórico 1931 – Decreto 19.606, regula o exercício da profissão de farmacêutico e estabelece as suas competências em: Preparação de medicamentos Análises clínicas Função de químico, bromatologista, biologista e legista. Estabelece normas para atividade de drogaria e vendas no atacado; Normas para importação e exportação de medicamentos; Obrigações e responsabilidade técnica.

· 12. Histórico 1931 – Decreto 20.877, concede a leigos a permissão para o exercício de atribuições próprias do farmacêutico; Oficializa-se a a figura do “Prático”. O declínio do prestígio do farmacêutico coincide com o o crescimento da produção da indústria farmacêutica, depois da II Guerra Mundial. A indústria faz medicamentos que o farmacêutico não pode. A produção em grande escala diminui o custo e facilita o controle de qualidade.

· 13. Histórico A indústria promove maciçamento os seus produtos a prescritores e vendedores no varejo. A propaganda cria necessidades e concepções a respeito do valor científico da tecnologia embutida nos novos medicamentos e da inevitabilidade do seu uso, “Medicalização da saúde”.

· 14. Histórico Dédada de 40, 50 e 60 – consolidação da indústria farmacêutica e da panacéia dos medicamentos. Década de 60 – começam a ser verificados e notificados efeitos adversos graves por utilização de medicamentos. Cloranfenicol e anemia aplástica, Talidomida e focomelia, mortes relacionadas ao uso de anestésicos, câncer de vagina e uso de Dietilbestrol, etc. Surgimento da Farmácia Clínica – seguimento farmacoterapêutico nos hospitais. Agência reguladora americana, FDA, financia programa de coleta e notificação de Reações Adversas a Medicamentos. EUA e outros países, com apoio da OMS iniciam programas de Farmacovigilância.

· 15. Histórico 1960 – Lei 3.820 cria os Conselhos Federal e regionais de Farmácia, com finalidade de zelar pelo exercício profissional de acordo com a ética. Décadas de 70 e 80 – OMS e FIP reafirmam a importância do farmacêutico como educador em saúde e seu papel imprescindível como orientador do uso racional de medicamentos. Realização de grandes conferências para reafirmação e redefinição do papel do papel do farmacêutico na equipe de saúde. Resgate do papel do farmacêutico e surgimento da Atenção Farmacêutica ( Pharmaceutical care ), no EUA.

· 16. Histórico 1973 – Lei 5.991 estabelece as normas para funcionamento de farmácias e drogarias: Farmácia: estabelecimento de manipulação de fórmulas magistrais e oficinais, de comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos, de dispensação e atendimento privativo. Drogaria: estabelecimento de dispensação e comércio de drogas, medicamentos e correlatos em suas embalagens originais. Ervanaria: estabelecimento que realiza a dispensação de plantas medicinais. Distribuidora – empresa atacadista de drogas, produtos e insumos farmacêuticos que comercializam e distribuem produtos a farmácias e drogarias e são obrigadas a ter farmacêutico por ser atividade de relevância para a saúde e proteção do consumidor.

· 17. O papel do farmacêutico na farmácia )OMS, FIP, Tóquio, 1993) Preparar e dispensar medicamentos; Informar o paciente sobre a utilização correta dos produtos farmacêutico; Contribuir para o uso e a prescrição racional; Acompanhar e avaliar a utilização de produtos farmacêuticos; Aconselhar sobre o uso de produtos não prescritos; Participar em programas de educação e promoção da saúde; Estimular hábitos saudáveis de vida e de higiene; Educar a população para a prevenção de doenças; Integrar e colaborar com a equipe de saúde.

· 18. Medicamento – principal ferramenta da Assistência farmacêutica O que o medicamento? É uma substância química + Tecnologia + Informação A qualidade da informação a respeito do medicamento é tão importante quanto a qualidade do princípio ativo.

· 19. Medicamento Lei 5.991/73: Medicamento: produto tecnicamente elaborado com finalidade curativa, preventiva ou diagnóstica. Remédio: é qualquer cuidado utilizado para curar ou aliviar os sintomas das doenças; Droga: substância ou matéria prima com finalidade medicamentosa; Correlato: substância, produto, aparelho ou acessório para uso ou aplicação ligado a defesa ou proteção da saúde, higiene, diagnóstico, cosmético, perfume, dietético etc.

· 20. Medicamentos Medicamentos essenciais: São aqueles considerados básicos e indispensáveis para atender as necessidades de assistência à saúde da maioria da população. Medicamento de referência: São medicamentos inovadores, registrados no órgão federal responsável pela vigilância sanitária (ANVISA), e comercializados sob patente com direito a exclusividade de produção. Sua eficácia, segurança e qualidade devem ser comprovadas cientificamente por ocasião do registro no órgão de VISA.

· 21. Medicamento Genérico É aquele que apresenta a mesma fórmula e componentes, mesma concentração, forma farmacêutica, apresentação, via de administração e biodisponibilidade do medicamento de referência, podendo com ele ser intercambiável. Só pode ser produzido após expirar a patente do medicamento de referência. São comercializados com o nome da substância ativa, denominação genérica conforme a DCB ou DCI. Biodisponibilidade indica a velocidade e a extensão de absorção de um princípio ativo em uma forma de dosagem, a partir de sua curva de concentração na circulação sanguínea ou sua excreção na urina ou outras vias.

· 22. Medicamentos genéricos - vantagens O uso de medicamentos no Brasil é caracterizado pela dificuldade de acesso da maior parte da população aos medicamentos essenciais e abuso pelas classes que têm poder de compra, expostos à influência da propaganda. Diminuem custos, facilitando o acesso a medicamentos de qualidade; Ajudam o prescritor associar o nome do princípio ativo com a patologia; Favorecem o acesso, caso o medicamento comercial saia do mercado, ou se o paciente estiver em outro país; Diminuem o risco do paciente receber dois medicamentos iguais com nomes comerciais diferentes. Segundo a lei brasileira, é permitido, APENAS , ao farmacêutico realizar a substituição genérica, se não houver manifestação contrária do prescritor.

· 23. Nomenclatura de Medicamentos Nome genérico: Ácido Acetil Salicílico Nome de marca: Aspirina, Doril etc Nifedipina Adalat, Oxcord, Cardalin Cimetidina Tagamet, Ulcimet, Duomet

· 24. Medicamentos similares São medicamentos semelhantes aos de referência, podendo diferir somente nas características relativas ao tamanho e forma do produto, e alguns componentes da fórmula, como excipientes e veículos. Não é necessário apresentar a mesma biodisponibilidade. Deve ser registrado com um nome comercial.

· 25. Registro de medicamentos É a autorização para produção e comércio de medicamentos. É ato privativo da Agência nacional de Vigilância Sanitária, ANVISA. Destina-se a assegurar o direito de produção segundo as exigências legais. Exigências: documentos que comprovem licença do fabricante, certificado de Boas Práticas de fabricação, certificado de responsabilidade técnica, descrição química, biológica, farmacocinética, farmacodinâmicas e técnicas do produto.

· 26. Seqüência de desenvolvimento de um novo fármaco Descoberta (pesquisa de produtos naturais ou síntese química) Caracterização fisicoquímica Estudos pré-clínicos farmacológicos Estudos pré-clínicos toxicológicos (toxicidade aguda, crônica, mutagenicidade, teratogenicidade, carcinogenicidade) Estudos clínicos: Fase I: estudos primários em voluntários Fase II: medidas iniciais de atividade e estudo de descoberta da dose Fase III: ensaios terapêuticos para definir eficácia Fase IV: Estudos pós-comercialização (FARMACOVIGILÂNCIA

· 27. Aspectos a serem considerados com relação ao uso de medicamentos Benefícios: deve apresentar eficácia na prevenção, controle e /ou cura de doenças, sintomas e complicações; Riscos: efeitos adversos a curto e longo prazo, fatores de risco especiais associados a doenças ambientais e genéticas, nutrição, idade, sexo, gestação, lactação etc; Razão benefício-risco: prescrição de medicamentos cujos riscos são inferiores ao benefício apresentado; Injustiça social: não-disponibilidade de medicamentos ao que dele necessitam; Custo: não deve inviabilizar o consumo aos que dele necessitam.

· 28. Medicamentos Todo medicamento apresenta risco ao ser consumido; Os medicamentos não são capazes por si só de promover a saúde da comunidade; Os medicamentos são bens da sociedade e não simples bens de consumo.

· 29. Comercialização segundo portaria do órgão regulador de VISA Medicamentos de venda livre ou sem prescrição Medicamentos cuja venda é permitida mediante apresentação de prescrição médica (tarja vermelha) Medicamentos cuja comercialização é permitida mediante retenção de receita especial (tarja preta)

· 30. Comercialização Na hora da compra, VERIFIQUE SEMPRE na embalagem do medicamento: 1 - Se consta a data de validade do produto. 3 - Se o nome do produto está bem impresso e pode ser lido facilmente. Se não há rasgos, rasuras ou alguma informação que tenha sido apagada ou raspada. 2 e 4 - Se consta o nome do farmacêutico responsável pela fabricação e o número de sua inscrição no Conselho Regional de Farmácia. O registro do farmacêutico responsável deve ser do mesmo estado em que a fábrica do medicamento está instalada. Se consta o número do registro do medicamento no Ministério da Saúde.

· 31. COMERCIALIZAÇÃO Se o número do lote impresso na parte de fora da caixa é igual ao que vem impresso no frasco ou na cartela interna. SOROS E XAROPES DEVEM VIR COM LACRE.

· 32. Aspectos relacionados com a autenticidade do produto A BULA NÃO PODE SER UMA FOTOCÓPIA. Recusar medicamentos com embalagens amassadas, lacres rompidos, rótulos que se soltam facilmente ou estejam apagados e borrados. Verifique, sempre, com o farmacêutico ou com a indústria se houve mudança de embalagem, ou de cor, de formato ou se o tamanho das letras no nome do produto foi alterado; Certifique-se, também, em caso de mudança de sabor, cor ou forma do produto.

· 33. Formas farmacêuticas e vias de administração Via oral: comprimidos, cápsulas, drágeas, pastilhas, pós para reconstituição, gotas, xaropes, solução oral e suspensão. Via parenteral: soluções e suspensões injetáveis. Via nasal: spray e gotas nasais. Via oftálmica: colírios, pomadas oftálmicas. Via cutânea: soluções tópicas, pomadas, cremes, loção, gel, e adesivos. Via auricular: gotas auriculares ou otológicas, pomadas auriculares. Via pulmonar: aerossol e nebulização. Via vaginal: cremes, pomadas e óvulos; Via retal: supositórios e enemas.

· 34. Uso Racional de Medicamentos É o uso consentido e correto, seguro e efetivo do medicamento, a partir de um diagnóstico preciso, resultando no menor risco de aparecimento de reações adversas para o usuário, e ao menor custo possível . Requisitos: indicação precisa, dose e via de administração adequadas e duração do tratamento apropriada, com acompanhamento da utilização.

· 35. Uso Racional de Medicamentos Em 1985, a OMS organizou em Nairobi, uma conferência internacional com representantes dos governos, universidades, pacientes, consumidores, entidades profissionais e indústria farmacêutica. O objetivo era discutir a importância dos países formularem políticas de medicamentos que promovessem o Uso Racional de Medicamentos.

· 36. Uso racional de medicamentos: estratégia para sua promoção Educativas: educação formal e permanente em farmacoterapia da equipe de saúde; elaboração e divulgação de material impresso independente sobre medicamentos; realização de eventos para discussão de problemas relacionados ao tema; De gestão: estabelecer critérios para seleção, financiamento, aquisição, distribuição, prescrição e dispensação de medicamentos; Normativas: controle de promoção e publicidade de medicamentos; controle e orientação da prescrição; controle do registro, comercialização e dispensação de medicamentos




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