quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

FARMÁCIA COMO CLÍNICA PARTE 1

FARMÁCIA COMO CLÍNICA PARTE 1


Denise de Oliveira Kühner
Farmacêutica especialista em Farmácia Hospitalar.
Pós-graduada pela Universidade Veiga de Almeida - RJ

1 - INTRODUÇÃO

Nos primórdios dos tempos, houve homens e mulheres que enfrentaram riscos, passaram por sacrifícios e trabalharam incansavelmente para realizar sua visão de futuro. Foram chamados de exploradores, pioneiros, bandeirantes. Os profissionais de farmácia, hoje, partilham muito esta visão com esses visionários, pois enfrentam uma fronteira não menos repleta de desafios e incertezas. E estes líderes, não podem ficar sentados, vendo a história acontecer, pois é hora de mapear o futuro prático da farmácia em hospitais e sistemas de saúde.

Para este mapeamento é necessário o estabelecimento de padrões práticos, além da elevação das expectativas de práticas nos hospitais e sistemas de saúde, a níveis de excelência, com os seguintes objetivos:

Ø  - garantir a segurança do paciente e os melhores efeitos das terapias,
Ø  - eliminar falhas dos sistemas,
Ø  - estabelecer métodos para manter-se atualizado em relação às medicações novas e complexas...enfim a todos os desafios que requerem plena atenção do profissional farmacêutico.

Mesmo com a chegada do novo século, o futuro dos sistemas de saúde farmacêuticos continuam sendo uma questão aberta, porque as pressões das administrações, como nas restrições de orçamentos e as pressões externas à prática, como o foco no erro médico, fazem com que seja importante a união das equipes.

A prática farmacêutica sempre deu ênfase ao medicamento como produto, sem prestar atenção especial aos efeitos dos fármacos nos pacientes, aos erros de medicação, aos problemas derivados do uso ou mau uso dos medicamentos e muito menos aos resultados obtidos com os tratamentos farmacológicos.

Como o bom atendimento ao paciente está baseado tanto em um diagnóstico correto como numa terapêutica adequada, o conhecimento das propriedades básicas das substâncias utilizadas para este fim, bem como de sua ação farmacológica é, portanto, fundamental para a prática da medicina.

Entretanto, isto não é suficiente, pois é preciso pensar que o corpo humano é um sistema complexo formado por uma infinidade de substâncias que fatalmente entrarão em reação com os fármacos ingeridos. Também é natural supor-se que, no caso da administração (com fins terapêuticos ou não) de uma ou mais substâncias, possam elas interagir entre si.

Para se garantir a obediência aos tratamentos é necessário o monitoramento da eficácia dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos. O acompanhamento dos protocolos clínicos e das doenças requer, também, o conhecimento e a compreensão dos profissionais de saúde, assim como a compreensão do paciente. Deste modo, as informações divulgadas são indispensáveis e críticas.

A farmácia clínica é um conjunto de crenças, normas e valores que, em conformidade com o exercício da profissão farmacêutica em relação à atenção sanitária, constitui a base da conduta de colaboração dentro da equipe assistencial. As ações do farmacêutico são pré-determinadas e dirigidas, visando maior compromisso para com o paciente, na orientação sobre a terapia medicamentosa, em todas as suas fases, cuidando, em cada momento, de sua adequada utilização nos planos assistencial, econômico, de ensino e pesquisa.

O instrumento de trabalho é o medicamento. Como unidade clínica, o foco de atenção do Serviço de Farmácia deve estar no paciente e suas necessidades,
enquanto consumidor dos medicamentos e enquanto indivíduo que sofre problemas de saúde relacionados com os fármacos, na manifestação dos efeitos adversos ou na falta do efeito desejado.

É igualmente importante a realização de um trabalho em áreas-alvo, onde as perdas podem ser diminuídas, como na equipe de terapia nutricional, para promover a redução de custos. As atividades clínicas têm igualmente por objetivo a recomendação de terapias mais baratas, o auxílio para redução do excesso de medicamentos utilizados, a interpretação dos dados laboratoriais para acompanhamento da eficácia da terapia e antecipação dos efeitos tóxicos ou adversos, a orientação/estabelecimento de planos de descarte de materiais pelos pacientes, a participação nas atividades de controle de infecção na organização e a avaliação rotineira das terapias medicamentosas, com a finalidade de prevenir e identificar potenciais reações adversas.

Para o controle do programa droga-alvo, é necessário o monitoramento farmacoterapêutico e o trabalho conjunto com o pessoal responsável pela administração de drogas EV, com o objetivo de diminuir o uso de soluções EV (e os seus períodos de tempo de tratamento) e orientar para substituição para a via IM ou oral, assim que possível.

2 - ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA E ATENÇÃO FARMACÊUTICA

A Assistência Farmacêutica trata de um conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde, tanto individual como coletiva, tendo o medicamento como insumo essencial e visando seu acesso e seu uso racional. Este conjunto envolve a pesquisa, o desenvolvimento e a produção de medicamentos e insumos, bem como sua seleção, programação, aquisição, distribuição, dispensação, garantia da qualidade dos produtos e serviços, acompanhamento e avaliação de sua utilização, na perspectiva da obtenção de resultados concretos e da melhoria da qualidade de vida da população.

As ações de Assistência Farmacêutica envolvem aquelas referentes à Atenção Farmacêutica, considerada como um modelo de prática farmacêutica, compreende as atitudes, os valores éticos, os comportamentos, as habilidades, os compromissos e co-responsabilidades na prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde, de forma integrada à equipe de saúde. É a interação direta do farmacêutico com o usuário, objetivando uma farmacoterapia racional e a obtenção de resultados definidos e mensuráveis, voltados para a melhoria da qualidade de vida. Essa interação também deve envolver as concepções dos seus sujeitos, respeitadas as suas especificidades bio-psico-sociais, sob a ótica da integralidade das ações de saúde.

É importante que o novo conceito de Atenção Farmacêutica seja assumido por um número crescente de farmacêuticos, não somente para “re-profissionalizar” a profissão de farmacêutico, mas principalmente porque a crescente complexidade farmacoterapêutica e a aparição de novos fármacos supõem um avanço importante na efetividade dos tratamentos e, ao mesmo tempo, requerem conhecimento pleno de seus usos, para garantir os objetivos dos tratamentos e evitar as reações adversas.

3. PRINCÍPIOS BÁSICOS DA FARMÁCIA CLÍNICA

As consequências humanas e econômicas do uso incorreto de medicamentos foram objeto de discurso profissional e público, por mais de duas décadas. A falta de conhecimento suficiente a respeito dos problemas de saúde e dos medicamentos tem como uma das consequências a falta de aderência dos pacientes ao regime terapêutico e aos planos de monitoramento, porque sem orientação adequada os pacientes não podem ser parceiros efetivos no gerenciamento de seus próprios planos terapêuticos.

A profissão farmacêutica aceitou a responsabilidade de fornecer consultas farmacêuticas, com o principal propósito de aumentar a aderência aos tratamentos e reduzir os problemas relacionados aos medicamentos. Os farmacêuticos que praticam Atenção Farmacêutica fazem, com frequência indicações farmacêuticas.

Isto não significa, no entanto, que o farmacêutico tenha que realizar exame físico do paciente, mas reconhecer os sinais e sintomas que podem revelar a existência de um problema relacionado à terapia medicamentosa. A história farmacoterapêutica também não deve ser confundida com a história clínica, pois a primeira recolhe unicamente as informações necessárias para o controle da farmacoterapia e seus possíveis problemas potenciais ou reais.

Tampouco a consulta farmacêutica, cujo objetivo é assessorar o paciente para garantir a máxima efetividade da terapia evitando seus riscos, deve ser confundida com a consulta médica cujo objetivo é diagnosticar a enfermidade e estabelecer seu tratamento mais idôneo.

Os Serviços de farmácia Clínica hospitalares têm como principal objetivo acelerar a alta do paciente. Os protocolos de trabalho devem incluir a educação do paciente e dos profissionais sobre o uso, a avaliação da eficácia e a consulta farmacocinética.

Embora discreta, a premissa de atuação da farmácia clínica é que a melhora do índice de alta do paciente resultará em redução de custos (aumento de rotatividade). Como parâmetro de avaliação da atenção farmacêutica, pode ser implantado um programa droga-alvo que utilize os controles farmacêuticos, principalmente para medicamentos de alto custo ou tóxicos, que não possam ser retirados da padronização.

Devem ser divulgados os critérios para o uso destes medicamentos, aliados a um informativo educacional. O farmacêutico deve revisar os prontuários dos pacientes diariamente para monitoramento estes fármacos e recomendar alternativas terapêuticas quando o uso desses medicamentos é impróprio, além de orientar os profissionais para evitar a prescrição inadequada de medicamentos específicos.

4 - USO RACIONAL E IRRACIONAL DOS MEDICAMENTOS

Em todo o mundo, mais de 50% dos medicamentos são prescritos, dispensados ou vendidos de forma inadequada. Ao mesmo tempo, 1/3 da população mundial não tem acesso aos medicamentos essenciais e 50% dos pacientes fazem uso incorreto de medicamentos.

Este uso irracional gerado por profissionais da saúde ocorre pelos seguintes fatores:

Ø  - uso demasiado de medicamentos por paciente (polifarmácia)
Ø  - uso inadequado de antimicrobianos (pelo menos em doses incorretas) para infecções não bacterianas
Ø  - uso excessivo de injeções ao invés de administração de medicamentos via oral.
Ø  - prescrição em desacordo com indicações clínicas
Ø  - automedicação inadequada, principalmente com medicamentos tarjados.

A falta de acesso aos medicamentos e as doses inadequadas têm como consequência um alto índice de morbidade e mortalidade, principalmente nas infecções infantis e nas doenças crônicas, como hipertensão, diabetes, epilepsia ou psicoses. Existe um desperdício de recursos além de prejuízo ao paciente pela falta de resultados positivos e pela incidência de reações adversas.

Avaliação do problema do uso irracional

Existem razões e causas racionais para o uso irracional de medicamentos, como a falta de conhecimento ou informação sobre os medicamentos, a disponibilidade sem restrições dos medicamentos, o excesso de trabalho do profissional sanitário, eventuais promoções inadequadas de medicamentos por empresas que não atuam de forma ética.

Políticas fundamentais para promoção do uso mais racional de medicamentos na instituição: Para evitar os problemas do uso irracional, são necessárias algumas intervenções e estratégias nas instituições, como:

1)         organização multidisciplinar para coordenação do uso de medicamentos

O impacto sobre o uso de medicamentos é maior quando se aplicam várias intervenções ao mesmo tempo, de modo coordenado, porque as intervenções isoladas tem muito pouca influência.

2) diretrizes clínicas (políticas de prescrição / protocolos padronizados):

As políticas de prescrição são afirmações desenvolvidas sistematicamente para auxiliar os prescritores a tomar decisões sobre os tratamentos mais adequadas às condições clínicas específicas. Apresentam como vantagens o fornecimento de um ponto de referência de diagnóstico e tratamento satisfatórios com o que se pode comparar os tratamentos reais e constituem um modo provado de promover o uso racional de medicamentos, quando:

a) são desenvolvidas de modo participativo que inclua os usuários finais
b) são fáceis de ler
c) são apresentadas a nível institucional, acompanhadas de ampla divulgação e informação
d) são reforçadas por uma auditoria de prescrições e pelas opiniões dos usuários

Devem ser desenvolvidas diretrizes para todos os níveis de assistência farmacêutica, baseadas nas condições clínicas e nos conhecimentos médicos disponíveis. As recomendações de tratamento baseadas nas evidências acompanhadas de uma atualização regular contribuem para garantir a credibilidade e aceitação das diretrizes pelos médicos

3) lista de medicamentos padronizados, baseada nos protocolos clínicos:

Esses medicamentos devem satisfazer as necessidades de assistência sanitária da organização. A utilização de uma lista de medicamentos padronizados facilita a gestão da medicina porque há menos unidades e porque não é necessário conhecer inúmeros produtos. Facilita, também, o aprovisionamento, armazenamento e distribuição.

4) CHFT nos hospitais:

CHFT – comissão criada para garantir o uso seguro e eficaz de medicamentos no estabelecimento

5) educação médica continuada como requisito para desempenho de sua profissão:

A educação continuada é um requisito para o desempenho da profissão em diversos países. No entanto, dependem da colaboração da indústria farmacêutica, pois os recursos públicos não são suficientes. Nestas circunstâncias, a educação continuada pode não ser imparcial. Para garantir uma educação imparcial é necessário desenvolver parcerias com empresas éticas e idôneas, além de contar com o estímulo governamental para incentivo às universidades e associações profissionais independentes. A instituição hospitalar pode planejar encontros profissionais periódicos para incentivar o desenvolvimento profissional e garantir atualização dos conhecimentos.

6) supervisão, auditoria e comentários:

A supervisão é fundamental para garantir a boa qualidade da assistência sanitária. Quando feita de modo construtivo, educativo e pessoal, é mais eficaz e aceita mais facilmente pelos prescritores do que a simples inspeção, seguida de sanções.

7) informação sobre medicamentos para profissionais e pacientes

A única informação que os prescritores costumam receber é provida pela Indústria farmacêutica, que pode carecer de imparcialidade. Os centros de informação sobre medicamentos e os boletins sobre medicamentos são formas úteis de disseminar estas informações. Os responsáveis sobre os centros de informações e boletins devem ser independentes, impermeáveis a influências externas, devem divulgar critérios médicos baseados em evidências e empregar um sistema transparente na formulação das recomendações.

Sem conhecimentos suficientes sobre os riscos e vantagens dos medicamentos, assim como e quando utilizá-los, não se obtém os resultados clínicos esperados e pode haver RA’s. Esta afirmação se aplica aos medicamentos prescritos bem como aos pacientes que os utilizam sem consultar nenhum profissional habilitado.

Medidas para favorecer o uso racional a nível governamental:

Os governos são responsáveis por garantir a qualidade da informação sobre medicamentos para os consumidores. Para isto é necessário:

a) garantir que os medicamentos OTC sejam vendidos com rótulos apropriados, precisos e fáceis de entender para os leigos. A informação deveria incluir o nome do medicamento, as indicações, contra-indicações, dose, interações e advertências relativas a usos ou modo de armazenamento que podem ser inadequados.

b) supervisionar e regulamentar a publicidade na mídia, para não influir negativamente os consumidores ou prescritores.

c) coordenar campanhas de educação dirigidas ao público, que tenham em conta suas crenças culturais e a influência de fatores sociais.

d) registro de medicamentos para garantir a disponibilidade no mercado de medicamentos seguros e eficazes de boa qualidade, para proibir os medicamentos nocivos ou ineficazes

e) estabelecimento de normas educativas para os profissionais sanitários

f) desenvolvimento e aplicação de códigos de conduta

g) supervisão e regulação da promoção de medicamentos para garantir ética e imparcialidade.

h) todas as promoções de medicamentos devem ser fiéis, precisas, verdadeiras, informativas, equilibradas, atualizadas e comprováveis.


A falta de medicamentos essenciais leva ao uso de medicamentos não essenciais e a falta de pessoal com preparo adequado leva à prescrição de medicamentos por profissionais sem preparo.

5 - QUALIDADE E EXCELÊNCIA DO SERVIÇO DE FARMÁCIA CLÍNICA

Para que o serviço farmacêutico do hospital tenha a qualidade necessária, deve-se buscar o uso dos melhores fármacos disponíveis, a divulgação de informações objetivas sobre os medicamentos e a segurança de que o medicamento prescrito pelo médico irá chegar corretamente ao paciente e nas melhores condições, evitando-se os erros.

Para a obtenção desse padrão de qualidade, deve-se implantar a padronização de medicamentos (aliada à distribuição por dose individualizada/unitária), pois é absurdo desenvolver um programa ambicioso de monitoramento farmacêutico, se não tivermos a certeza de que o paciente esteja recebendo o medicamento prescrito, no horário devido.

Para que o plano racional dos medicamentos tenha êxito, é necessário que a atenção ao paciente seja prestada nos moldes de uma equipe interdisciplinar de atendimento. Na prática multidisciplinar, cada membro do grupo presta seu atendimento consciente do atendimento das outras especialidades. Na prática interdisciplinar, os membros de uma equipe coordenam ativamente o atendimento através da integração entre as especialidades.

Em uma equipe de saúde interdisciplinar ideal, as decisões são tomadas em consenso e cada especialidade tem igual oportunidade de expressar suas orientações e decisões.

Para fazer a transição prática de uma equipe multidisciplinar em interdisciplinar, todas as especialidades devem compartilhar pontos que representem interesse profissional comum e possuam a mesma base de conhecimento.

Este modelo prático potencializa a seriedade das profissões e aprofunda os conhecimentos sobre a contribuição de cada uma. As barreiras da prática interdisciplinar existem devido a filosofias diferentes de prática e treinamento profissional, logística de implementação de equipes e limitação de recursos.

Para facilitar a prática interdisciplinar, os farmacêuticos devem ser competentes, compreender o espírito de equipe, estar preparados para ajudar a desenvolver os efeitos e objetivos da terapia medicamentosa e procurar a sua participação na equipe.

6 - ORIENTAÇÃO EM BENEFÍCIO DO PACIENTE

Se o farmacêutico clínico sabe que o paciente é o motivo do seu trabalho, saberá também, como igualmente devem sabê-lo outros profissionais, que o trabalho em equipe, abstendo-se de qualquer espírito individualista, é a melhor atitude para proporcionar maiores benefícios ao paciente.

Fornecer atenção farmacêutica compreende assumir responsabilidades sobre os resultados farmacoterapêuticos. Os farmacêuticos podem contribuir para a obtenção de resultados positivos, através da consulta farmacêutica aos pacientes, familiares ou acompanhantes, para motivá-los a acompanhar e monitorar o regime terapêutico prescrito. O envolvimento do paciente é a aderência ao seu esquema terapêutico, o monitoramento dos efeitos dos medicamentos e o relato de suas experiências para o farmacêutico e outros membros da equipe de saúde.

Este procedimento farmacêutico deve ser estendido ao maior número possível de pacientes, dentro dos requerimentos legais e regulamentares.

Os farmacêuticos devem, também, participar dos programas de educação ao paciente, para determinar quais informações específicas e aconselhamentos são necessários em cada situação de assistência a cada paciente em particular. Um esforço coordenado entre os membros da equipe irá aumentar a aderência dos pacientes ao regime terapêutico, facilitando o monitoramento dos efeitos dos medicamentos, com retorno positivo para a equipe de saúde.

As diretrizes para educação e aconselhamento dos pacientes são aplicáveis a todas as equipes, incluindo os profissionais que lidam com os pacientes de terapia intensiva, os pacientes em assistência ambulatorial, no atendimento domiciliar e no atendimento crônico. As técnicas e o conteúdo devem ser ajustados para atender às necessidades específicas de compreensão do paciente, sem desprezar as normas e procedimentos da equipe.

Pode ser necessária alguma adaptação, como por exemplo, para uso no aconselhamento telefônico ou para o aconselhamento dos membros da família ou acompanhantes, ao invés da orientação exclusiva ao paciente. Além do conhecimento sobre farmacoterapia, os farmacêuticos devem mostrar conhecimento e habilidades para orientar os pacientes.

Devem conhecer a respeito de sua cultura, especialmente sobre sua atitude, comportamento e conhecimento sobre saúde e doença, para gerenciar a assistência que está sendo prestada. O emprego de questionários abertos / fechados e a postura de ouvir atentamente são habilidades essenciais para obtenção das informações dos pacientes. É necessário, também, observar e interpretar mensagens não verbalizadas, fornecidas pelos pacientes durante consulta farmacêutica.

Os farmacêuticos devem, também, procurar entender as atitudes dos pacientes e seu comportamento quanto ao uso correto do medicamento, avaliando se o paciente é capaz de usar um medicamento e se ele compreende a razão do uso.

Um paciente pode aprender melhor por instruções faladas, ao observar um diagrama, figura ou modelo ou também pelo manuseio da medicação e equipamentos de administração. Pode ter pouca acuidade visual para a leitura do rótulo, para as prescrições anexadas aos frascos, marcas de seringas, ou materiais escritos à mão.

Pode ainda ser incapaz de ouvir instruções orais, ou pode ter pouca habilidade motora para abrir frascos com tampas resistentes a crianças. A consulta farmacêutica ideal deve ser realizada em um ambiente que facilite o entrosamento e a compreensão, para ajudar o farmacêutico no estabelecimento de um relacionamento com o paciente.

Os pacientes individuais, grupos de pacientes, famílias ou acompanhantes devem se sentir confortáveis, confiantes e seguros no ambiente de reuniões. Essas orientações serão mais eficientes, quando conduzidas em ambientes, salas ou espaços que assegurem a privacidade, forneçam a oportunidade de comunicação confidencial e permitam a troca de atenções.

O ambiente deve ser equipado com ajuda visual apropriada, como gráficos, materiais escritos, modelos anatômicos e equipamentos de administração de medicamentos, com a finalidade de melhorar o entendimento.

Quando o paciente não tem condições de deambular e não estiver acompanhado, o farmacêutico deve ser capaz de fornecer a consulta junto ao leito, utilizando o maior número possível de recursos para garantir a compreensão do paciente sobre o seu esquema terapêutico.

As etapas no processo de educação e aconselhamento dos pacientes irão variar de acordo com as normas e procedimentos do sistema de saúde, além das práticas da equipe. Geralmente, as seguintes etapas são apropriadas para os pacientes que recebem novas medicações, e/ou retornam para complementação ou continuidade do tratamento:

1. Estabelecer relacionamento de assistência com o paciente conforme a prática da equipe, no plano de gerenciamento assistencial. O farmacêutico deve apresentar-se, explicando o objetivo e tempo da sessão, para obter, do paciente, a concordância em participar. Neste momento, deve determinar a linguagem que deverá ser utilizada no contato com o paciente.

2. Avaliar o conhecimento do paciente sobre seu problema de saúde e medicação, a capacidade física e mental para o uso apropriado da medicação e as atitudes relativas ao seu problema de saúde e medicação. Avaliar a sua expectativa em relação à terapia. Pedir ao paciente para descrever ou mostrar como usará sua medicação.
Os pacientes ambulatoriais que estejam retornando para complementar sua medicação devem ser solicitados a descrever ou mostrar como usaram a medicação. Devem, também, ser questionados sobre qualquer problema que tenham experimentado com sua medicação.

3. Fornecer informação oral e usar ajuda visual, ao demonstrar para os pacientes a cor, forma, tamanho e marcas dos sólidos orais. Para todos os líquidos injetáveis, mostrar aos pacientes a marca de dosagem nos instrumentos de medida. Demonstrar a montagem e o uso de equipamentos de administração, como inaladores nasais e orais. Como complemento da comunicação oral e pessoal, fornecer manuscritos para ajudar ao paciente a recordar as informações.

4. Se um paciente experimentou problemas com sua medicação, identificar o problema e notificar ao médico prescritor.

5. Avaliar a adequação do paciente ao regime terapêutico. A decisão de discutir informações farmacoterapêuticas com um paciente individual deve ser baseada em julgamento profissional farmacêutico. Na consulta farmacêutica devem ser noticiados aos pacientes a marca do medicamento, o nome genérico, um sinônimo comum ou outro nome descrito; o uso do medicamento, ações e benefícios esperados, se a medicação é destinada a cura de doença, eliminação ou redução dos sintomas, para estacionar ou diminuir processo patológico ou prevenir doença ou sintoma; a ação esperada do medicamento e
quais atitudes a tomar, na falta desta ação; a via de administração, forma de dosagem, dose e esquema de administração (incluindo duração da terapia); os meios para preparo e uso ou administração do medicamento, inclusive as necessidades de adaptação para adequação ao estilo de vida e ambiente de trabalho; as ações a tomar no esquecimento da dose; as precauções observadas durante o uso ou administração do medicamento e os riscos potenciais do medicamento, em relação aos benefícios; os efeitos adversos, as ações para prevenção ou diminuição de sua ocorrência; a notificação dessas reações ao médico prescritor e a prestadores de assistência à saúde; as técnicas para monitoramento pessoal da farmacoterapia; as interações medicamento-medicamento (incluindo os não prescritos), medicamento-alimento e medicamento doenças, as contraindicações do medicamento; a interação da medicação com procedimentos laboratoriais e radiológicos; o agendamento para o retorno do paciente de ambulatório; o armazenamento adequado do medicamento; o adequado descarte do medicamento descontinuado ou contaminado, bem como os equipamentos de administração empregados e qualquer outra informação única para um paciente particular ou medicamento.

Esses pontos são aplicáveis tanto para medicamentos prescritos como para os não prescritos. Dependendo da doença do paciente, devem ser abordados o estado da doença (se é aguda ou crônica e sua prevenção, progressão e recorrência), os efeitos esperados da doença sobre sua vida normal e o reconhecimento e monitoramento das complicações da doença. Os farmacêuticos devem documentar as orientações fornecidas nos prontuários médicos dos pacientes.

Quando não houver acesso aos registros médicos, as orientações podem ser documentadas no arquivo farmacêutico do paciente, no formulário de prescrição ou em registro preparado para este fim.

O farmacêutico deve documentar, também, se as orientações prestadas foram aceitas ou recusadas, notificando, inclusive, o nível de entendimento do paciente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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19) BRASIL - MINISTÉRIO DA SAÚDE - CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE resolução nº 338, de 6 de maio de 2004 – Política Nacional de Assistência Farmacêutica 

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