sábado, 1 de dezembro de 2012

BACTERIOSES : COQUELUCHE

BACTERIOSES : COQUELUCHE





Popularmente conhecida como “ tosse comprida ”, a coqueluche é uma doença infecciosa aguda.
O bacilo da coqueluche não ataca logo, quando penetra na árvore respiratória. Fica uns 10 ou 15 dias incubado, sem que nenhum sintoma apareça.
A irritação das mucosas provoca então os sintomas de uma gripe qualquer - Um pouco de febre, corrimento nasal, olhos avermelhados e lacrimejantes. Tosse com pouca intensidade, úmida e com catarro, é o período catarral.

Após seis ou sete dias, aparecem finalmente os sintomas bem característicos, que identificam sem dúvida a coqueluche. A tosse torna-se mais seca, insistente e irritante. À noite surgem verdadeiras crises e a criança perde o sono, fica irritada e abatida.
Após umas duas semanas, começa o período ainda mais característico, que justifica o nome popular de “Tosse Comprida”. Ocorrem acessos em que a tosse se prolonga e se repete cinco, seis e até dez vezes consecutivas. A criança retém a respiração e inspira profundamente, procura retomar o fôlego e se cansa com o enorme esforço. A laringe estreita-se, no espasmo ao passar por ela, o ar produz o ruído alto e estridente que a linguagem popular denominou “Tosse de Cachorro” Durante os acessos, principalmente os mais violentos, a pele fica arroxeada; a respiração difícil torna deficiente a oxigenação do sangue, a criança no esforço põe a língua para fora, os olhos ficam vermelhos e lacrimejantes. Os acessos de tosse aparecem com freqüência, intensidade e duração variável de uma criança para outra.
O período dos acessos de tosse, chamado convulsivos, dura muita semanas Em crianças nervosas e emotivas, a tosse convulsiva pode pendurar por mais tempo, com grande influência de fatores psicológicos.

AGENTE ETIOLÓGICO: Bordetella Pertussis ou Bacilo da coqueluche; é um bacilo  GRIAM NEGATIVO, abróbio não imóvel e pequeno, provido de Cápsula (formas patogênicas) e de fimbrias.

FONTE DE INFECÇÃO: O homem é o único reservatório da natureza. As fontes de infecções são secreções dos brônquios e laringe de indivíduos contaminados;

PERIODO DE INCUBAÇÃO: De 7  à 14 dias, podendo variar até 20 dias.

PERIODO DE TRANSMISSIBILIDADE: Pode ocorrer desde de uma semana após o contagio, até três semanas do aparecimento do período paraxístico. Tem alta transmissibilidade no período catarral.

MODO DE TRANSMISSÃO: a transmissão pode ocorrer:

·         Por contato direto com doenças, pelas gotículas e secreções que eliminam.
·         Por contato indireto, através de fômites (objetos recentemente contaminados)

SUSCETIBILIDADE: a coqueluche tem distribuição universal. Maior incidência nos meses frios do ano e a comete crianças na 1º década de vida e em maior número no sexo feminino.

DISTRIBUÇÃO, MORBIDADE, MORTALIDADE E LETALIDADE:

Entre populações aglomeradas, a incidência pode ser maior em fins de inverno e começo da primavera, porém em populações dispersas a incidência estacional é variável. Não existe uma distribuição geográfica preferencial. A aglomeração populacional facilita a transmissão. Não existe característica individual que predisponha à doença a não ser presença ou ausência de imunidade específica. A morbidade da coqueluche no país é muito  elevada, com média de 36.173 casos notificados por ano, no período de 1981- 1991; a partir de então vem decrescendo paulatinamente. A mortalidade tem estado em torno de 0.3 por 100.000 habitantes. A letalidade da doença tem importância mais acentuada no grupo das crianças menores de seis meses, onde se concentram cerca de 50% dos óbitos  por coqueluche.

QUADRO CLÍNICO

Fase Catarral: com duração de uma ou duas semanas, inicia-se com manifestações  respiratórias e sintomas leves ( febre um pouco intensa, mal estar geral, coriza e tosse ), seguidos pela instalação gradual de surtos de tosse, cada vez mais intensos e freqüente que passam a ocorrer as crises de tosses paroxísticas.

Fase paroxística: com duração de duas a seis semanas, apresenta como manifestações típicas os paroxismos de tosse seca, ( durante os quais o paciente não consegue inspirar e apresenta protusão da língua, congestão facial e , eventualmente, cianose com sensação de asfixia), finalizados por inspiração forçada, súbita e prolongada, acompanhada de um ruído característico, o guincho, seguidos de vômitos. Os episódios de tosse paroxística aumentam a freqüência e intensidade nas duas primeiras semanas e, depois, diminuem paulatinamente. Nos intervalos dos paroxismos a criança passa bem.

Fase de Convalescença: os paroxismos de tosse desaparecem e dão lugar a episódios de tosse comum, essa fase pode persistir durante mais algumas semanas. Infecções respiratórias de outra natureza, que se instalam durante a convalescença da coqueluche, podem provocar reaparecimento transitório dos paroxismos.

Coqueluche em indivíduos não adequadamente vacinados: a coqueluche nem sempre se manifesta sob a forma clássica acima descrita. Alguns indivíduos podem apresentar formas atípicas da doença, por não estarem adequadamente imunizados ( 3 doses de DPT + 1 dose de reforço )
Coqueluche em menores de 6 meses: lactentes jovens (< de 6 meses) constituem o grupo de indivíduos particularmente propensos a apresentar formas graves, muitas vezes letais, de coqueluche. Nessas crianças, a doença manifesta-se através de paroxismos clássicos, associados, às vezes, com episódios de parada respiratória (asfixia), cianose, sudorese, convulsões e vômitos intensos, exigindo hospitalização, vigilância permanente e cuidados especializados. Pode haver importante perda de peso e desidratação.
Diagnóstico Diferencial: com as infecções respiratórias agudas: traqueobronquites, bronqueolites, adenoviroses, laringites, etc.
Complicações: as principais complicações da doença são:
Respiratórias: pneumonia B. pertussis, pneumonia por outras etiologias, ativação de tuberculose latente, atelectasia, bronquiestasia, enfisema, pneumotórax, ruptura de diafragma, otite média e apnéia.
Neurológicas: encefalopatia aguda, convulsões, coma, hemorragias intra-cerebrais, hemorragia sub-dural, estrabismo e surdez.
Outras: hemorragias sub-conjuntivais, epistaxe, edema da face, úlcera do frênulo lingual, hérnias (umbilicais, ingüinais e diafragmáticas), conjuntivite, desidratação e/ou desnutrição (devido a vômitos freqüente pós-crise).
Tratamento: o uso de medicamentos sintomáticos tem sido utilizado. A eritromicina pode ser administrada para promover a diminuição do período de transmissibilidade da doença.
Profilaxia:
Vacinação: vacina tríplice, 3 doses, iniciando-se aos dois meses, quatro meses e seis meses, com reforço após um ano;
Educação sanitária ao público;
Isolamento respiratório.
Diagnóstico Laboratorial
Específicos: em situações de surto, é recomendável, sempre que possível, a identificação do agente infeccioso, através de cultura, pelo menos numa amostra dos casos, para que se possa conhecer a incidência da Bordetella pertussis.
Cultura: é o método de excelência para identificar o agente etiológico da coqueluche. Para melhorar a probabilidade de sucesso, diferentemente dos procedimentos utilizados para coleta de material por "swab" (cotonete com algodão) a amostra deve ser colhida com bastão especial, cuja ponta é coberta por dácron ou de alginato de cálcio, isto porque o algodão interfere no crescimento da Bordetella pertussis. A seguir deve ser transportada para meios de cultura especiais (Regan-Lowe ou Bordet-Gengou). Observe-se que o crescimento, em condições ideiais, para essa bactéria consegue-se em torno de 60 a 76% das vezes. Interferem no crescimento bacteriano nas culturas: uso de antimicrobianos ou de vacina específica, momento da coleta (quando passada a fase aguda da doença).
Sorologia: seria o método ideal para confirmar o diagnóstico de coqueluche, desde que, existisse comercialmente em larga escala, pudesse ser rápido, facilmente reprodutível e de baixo custo. Por essas características, até o momento não se dispõe de testes adequados nem padronizados. Os novos métodos em investigação apresentam limitações na interpretação, sensibilidade, especificidade e reprodutibilidade, além de necessitarem de laboratórios especializados. Dessa forma, a confirmação diagnóstica continua sendo o isolamento da bactéria de secreções de nasofaringe semeadas em meio de cultura.
Outros Métodos Laboratoriais que podem ser utilizados: neutralização da toxina, detecção do antígeno pelo método com anticorpos monoclonais e método da adenilatociclase: têm alta sensibilidade e especificidade, porém não foram padronizados. É importante salientar que o isolamento e detecção de antígenos, produtos bacterianos, ou sequencia genômicas de Bordetella pertussis são aplicáveis ao diagnóstico de fase aguda. A sorologia deve ser reservada para diagnósticos mais tardios ou levantamentos epidemiológicos.
Inespecíficos: para auxiliar na confirmação e/ou descarte dos casos pode-se realizar exames complementares: no período catarral, pode existir uma leucocitose relativa (de 10.000 leucócitos) que, no final dessa fase, já atinge um número, em geral, superior a 20.000 leucócitos/mm3. No período paroxístico, o número de leucócitos pode elevar-se para 30.000 ou 40.000, associado a uma linfocitose de 60 a 80%.
Velocidade de Hemossedimentação (VHS): a coqueluche oferece uma condição singular, apresenta VHS normal ou diminuída (geralmente inferior a 3), embora seja de origem infecciosa, o que permite distingui-la dos demais processos catarrais das vias respiratórias, nos quais a VHS se encontra, em geral, acelerada.
Exames Radiológicos: recomenda-se a realização de RX de tórax em menores de 4 anos, para auxiliar no diagnóstico diferencial e/ou presença de complicações.
Cuidados de enfermagem:
Isolamento respiratório por sete dias após o início da anti-bioticoterapia:
Máscara para todas as pessoas que entraram no quarto;
Avental para quem manusear o paciente;
Lavar as mãos antes e após tocar o paciente;
Todo material não descartável deve ser descontaminado antes do processamento;
Quarto ensolarado e livre de correntes de ar;
Oferecer líquidos com frequência;
Higiene oral e dos ouvidos com frequência;
Incentivar alimentação;
Quando a criança tossir, ampara-la virando-a de costas e passando o braço sob os seios;
Observação constante. Qualquer alteração respiratória, chamar o médico;
Controlar sinais vitais. Em casos de febre alta, chamar o médico.

FONTE

MINISTÉRIO DA SAÚDE, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica, DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS. GUIA DE BOLSO, 6ª edição revista Série B. Textos Básicos de Saúde, brasília / DF, 2006

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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Bibliografia Complementar

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